26 de abr. de 2009

RICARDO MEGA DO REGO BARROS
Brasília, 15.12.1969 - Florianópolis, 25.4.2009


Redação da sucursal do jornal A Notícia
(Florianópolis-SC), cerca de 2007.


Deve ter sido lá por volta de 2004 ou antes. O sempre atento Édson Rosa, chefe de reportagem da sucursal do jornal A Notícia e AN Capital em Florianópolis, pautou o repórter fotográfico Ricardo Mega para cobrir um roubo na residência do tenista Guga Kuerten, na rodovia Admar Gonzaga, no início do morro da Lagoa. Chegou ao local junto com a Polícia e fez as fotos das buscas na área externa. Ao entrar na casa foi bruscamente barrado por um irmão do tenista que, alterado, disse mais ou menos assim: Eles não entram aqui em dias normais, quanto mais nessa situação.

Nem é preciso dizer que o Mega ficou nervoso, vermelho, as veias do pescoço saltaram. Ato seguinte, o dito mano Kuerten passou a exigir o filme (na época era filme), pressionou os policiais que foram para cima do profissional. Ainda inexperiente e tomado de surpresa, entregou o rolo e retornou a redação, onde narrou o ocorrido. Como envolvia o tenista, não quiseram no jornal tocar no caso, mas o fato alimentou uma discussão. Ele deveria ou não ter entregue o filme? A conclusão foi que não poderia ter feito o que fez, deveria ter tentado de alguma forma garantir as imagens obtidas.

Mega ouviu atento, concordou, acrescentando mais uma na sua bagagem de experiência e revelando um traço importante de seu caráter: a humildade, a capacidade de refletir, aprender, somar aprendizados. A técnica ele tinha, ou seja, sabia como operar os equipamentos e foi o primeiro a aderir a conversão pelo digital no jornal A Notícia em Florianópolis. Mas lhe faltava a prática do foto-jornalismo, estava iniciando. Sempre atento, questionando, procurando observar com atenção o trabalho dos colegas, ganhou dimensão, sem abandonar jamais aquele ar ingênuo, o bom humor, a disposição.

Era totalmente despido de malícia. Ou seja, custou a entender que nem tudo o que se fala em Florianópolis se faz. E que o pessoal é dado a piadas e a por apelidos nos recém-chegados, pregar peças, aproveitar o 1º de abril. E o candango Mega a cair como tolo nas armadilhas dos colegas. Claro, nada que tenha causado dano, só pelo susto, até que ele foi se acostumando e a certa altura já não dava mais bola para as palhaçadas. Por essas e outras ele angariou tanta amizade, respeito profissional, tanto carinho dos colegas, amigos, conhecidos e fotografados.

Nascido em Brasília em 15 de dezembro de 1969, criado no meio militar, morou em várias cidades brasileiras. Com cerca de 23 anos, ingressou no curso técnico de fotografia da Escola Pan-Americana de Artes (EPA-SP, 1992-1993), com especialização em revelação e amplicação p&b e cor. Foi repórter-fotográfico do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, Editora Bloch (SP) e os jornais Diário Popular e Folha de São Paulo (caderno regional Folha Verde).

O passo seguinte foi seguir para a Austrália visando obter fluência no idioma inglês, onde atuou como fotógrafo e editor da Waverider Surf Magazine (1996-1997). Na volta, foi atuar como repórter-fotográfico do jornal Vale Paraibano. Eis que no ano 2000 ele está em Florianópolis para atuar na sucursal do jornal A Notícia. Foi quando o conheci, atuando lado a lado por sete anos.

O velório de hoje (26.4) no Itacorubi foi marcado por muita emoção. Ex-colegas do jornal A Notícia estavam lá, junto com os familiares. Cremado em Camboriu, suas cinzas vão ser lançadas no mar do Campeche pelos pais. Era isso que ele queria. Surfava aquelas ondas. Era casado com Isabelle Búrigo Paulo.



Homenagem de Arturo Gallo Sépia.


Pra onde foi o Mega!




Praia da Solidão, sul da Ilha de Santa Catarina
(Florianópolis-SC). A serviço. Por volta de 2006.



"É inacreditável o que aconteceu!!!!" (Sofia Mafalda)

7 comentários:

  1. Ricardinho morou muitos anos em São José dos Campos, SP, seus amigos desta cidade também não acreditam que o perderam dessa maneira. Vai com as ondas Ricardo!

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  2. Faltou dizer uma coisa, no começo: o repórter que estava com ele na casa do Guga era eu. Tivemos outra situação dessas no enterro do Baga. E aí, dá para nãoi entregar o filme?
    Mais do que um bom fotógrafo, um profissional que tinha humildade para aprender, o Mega era uma pessoa boa, sem maldade, até ingênuo às vezes. E a pessoa Mega é quem mais vai fazer falta.

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  3. Celso, eu contei dois causos do Mega no meu blog também, quando soube que ele estava hospitalizado. Ia contar outro que acho muito engraçado e que te envolve - de um dia em que ele chegou atrasado quase uma hora para vocês saírem para uma pauta... num período em que eu estava no lugar do Edson. Não sei se lembras da situação cômica. Mas como o causo envolve palavras de baixo calão, achei melhor deixar quieto... hehehe

    Que o Mega vá em paz!

    Beijo pra ti

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  4. Isnar Teles - São José dos Campos (SP)
    TRABALHEI COM O MEGA NA FOLHA DE S.PAULO DURANTE ALGUNS ANOS, NA VERDADE ERA FOLHA VALE E NÃO FOLHA VERDE, COMO DESCRITO ACIMA. ERA UMA PESSOA IMPREVISÍVEL, IMPERTINENTE... TUDO O QUE UM BOM FOTÓGRAFO PRECISA TER. LEMBRO-ME QUE POUCO TEMPO ANTES DE ELE IR PARA A AUSTRÁLIA RECLAMAVA DA FALTA DE GRANA. ABRIU UMA CONTA NO HSBC E A GERENTE QUERIA EMPURRAR NELE UM TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO A TODO CUSTO, MAS ELE NÃO QUERIA. A MULHER INSISTIU TANTO QUE O VELHO MEGA ACEITOU E FICOU COM O TÍTULO. RESULTADO: FOI SORTEADO E FATUROU R$ 80 MIL NA ÉPOCA. PRONTO! AGORA TAVA TUDO CERTO E ELE FINALMENTE EMBARCOU PARA A AUSTRÁLIA. A VIDA É ASSIM... BOA VIAGEM COMPANHEIRO

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  5. To my beautiful friend. You stayed at my house in Australia and we became good friends, I visited your home in Sao Paolo and met your amazing family.
    You have touched our lives here and we miss you xox

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  6. Hoje dois de julho de 2009, parece que a ficha ainda não caiu...
    Fica uma saudade que não cabe no peito, do meu amigo, do meu irmãozinho!
    Uma perda impossível de mensurar, Ricardo se resume naquele sorriso largo, na sua determinação, teimosia e um coração do tamanho do mundo... podia discutir horas a fio por uma bobagem, coisa de irritar mesmo,kkk, e na mesma hora pegar um cachorrinho de rua abandonado e levar para casa pra criar como se fosse seu filho, esse era meu amigo Ricardinho, Mega, só posso dizer que foi uma honra poder ter existido na mesma época que ele e ter desfrutado da sua amizade.
    As nossas histórias, ah, essas são muitas, Rcardo é daquelas pessoas que por onde passa deixa uma marca indelével, e com certeza levo ele comigo pra sempre onde quer que eu esteja.

    Adeus, adeus não meu amigo, até breve...

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  7. Mega,

    Vc foi um dos ou senão o unico amigo sincero que tive,falo isso de coração,sinto atá raiva de vc ter nos deixado dessa maneirta e tão novo,vc sempre foi um sonhador e buscava realizae seu sonhos custe oq custar.


    Fique com Deus e guie sua Famila e seu filho Iron...
    Fante

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