OS DEZ DIAS QUE
NÃO MUDARAM NADA
NÃO MUDARAM NADA
Por Olsen Jr.
Podem crucificar-me depois, mas não agora. O título aí em cima é uma alusão ao livro “Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo”, do jornalista John Reed... Ele foi à Rússia em 1917 e percebeu que estava no “olho do furacão”, aquele momento político e o conflito ideológico daí resultante que tão bem captou (antes que ocorresse o seu desfecho) com a vitória bolchevique e o triunfo de Lênin e que resultou no seu livro.
Calma leitor, que já vou explicar tudo. Com a morte do ex-presidente da Argentina, Raul Alfonsín, no dia 31 de março, lembrei:
Em 1982, no auge da ditadura militar naquele país, estava em La Plata participando do Iº Congresso Internacional de Filosofia do Direito. Desembarque no aeroporto de Ezeiza e de táxi naquele trajeto até Buenos Aires, onde os militares tinham o hábito de “desovar” os corpos de jornalistas e outros que desafiavam o regime. Entre esses outros estava um músico brasileiro que fora acompanhar Vinícius de Moraes e Toquinho, descera para comprar cigarros nas proximidades do hotel e nunca mais foi visto, provavelmente confundido com alguém. Os barbudos se parecem.
Chegar à Estacion Constitucion às 03h da madrugada e ouvir o poetinha cantando naqueles autofalantes, era de arrepiar qualquer um. Uma vontade de gritar “essa música é nossa”. Depois, uma viagem de trem, mais de três horas até La Plata.
Na Universidade estavam as maiores “cabeças” da Filosofia do Direito do mundo, o nº 1, naturalmente, Carlos Cossio (criador da teoria egológica que considera a ciência do direito como a ciência da experiência com base na cultura. Apóia-se na tríada: fato, valor e norma para apresentar o direito) também alguns brasileiros, destaque para Miguel Reale e o baiano Villa Nova, de Santa Catarina, Luis Fernando Coelho.
Estudantes brasileiros, apenas dois, o outro era um paranaense, que apareceu vestido com uma “jardineira” (esses macacões jeans que se vê em filmes americanos, usados por pessoas responsáveis por paisagismo e jardinagem) um violão nas costas e naturalmente disposto a mostrar a nossa música lá, com uma “canjinha para o “sweet baby James”, James Taylor e a interpretação de seu maior sucesso “You`ve got a Friend” (letra e música de Carole King).
As palestras eram com tradução simultânea, pela manhã e à tarde. Como os “opostos” se atraem, logo tínhamos formado o “bloco da boemia”, somados mais dois estudantes argentinos, o Gustavo acabou se tornando um grande amigo, era de Bahia Blanca, e um admirador do Sartre, logo, parecia que nos conhecíamos há 20 anos.
No terceiro dia do Congresso confessei para o Gustavo que, na condição de jornalista, eu estava muito “afim” de entrevistar o escritor Ricardo Rojo (ele tinha feito o livro “Meu Amigo Che”, biografia/reportagem sobre o médico revolucionário argentino e que fora proibido no Brasil, mas que eu tinha lido na clandestinidade). O Gustavo bem que insistiu, durante dois dias, em contato com a Associação Argentina de Escritores, e as inúteis tentativas de localizar o escritor. Sabia-se que estava no país, mas muito bem escondido por ser um “desafeto” da repressão argentina.
Well, não seria eu, um free-lancer a “entregar o ouro” para o inimigo. Para me consolar, na época, o candidato da União Cívica Radical, Raul Alfonsín estava em La Plata, em plena campanha para a indicação do partido, e contava com o apoio maciço dos universitários. O Gustavo me garantiu que a entrevista seria possível, mas ao invés disso, sugeri, depois de agradecer o seu empenho, que deveríamos visitar os sebos da cidade atrás das obras do Sartre que eu não tinha lido e que não se encontravam no Brasil, foi o que fizemos...
Alfonsín ganhou a indicação do partido em cima de Fernando de La Rua e a eleição, do Ítalo Luder, tomando posse no dia 10 de dezembro de 1983...
Sorry pela entrevista que não fiz, mas o livro “A Última Oportunidade”, do Sartre, só eu que tenho nesse País!
Calma leitor, que já vou explicar tudo. Com a morte do ex-presidente da Argentina, Raul Alfonsín, no dia 31 de março, lembrei:
Em 1982, no auge da ditadura militar naquele país, estava em La Plata participando do Iº Congresso Internacional de Filosofia do Direito. Desembarque no aeroporto de Ezeiza e de táxi naquele trajeto até Buenos Aires, onde os militares tinham o hábito de “desovar” os corpos de jornalistas e outros que desafiavam o regime. Entre esses outros estava um músico brasileiro que fora acompanhar Vinícius de Moraes e Toquinho, descera para comprar cigarros nas proximidades do hotel e nunca mais foi visto, provavelmente confundido com alguém. Os barbudos se parecem.
Chegar à Estacion Constitucion às 03h da madrugada e ouvir o poetinha cantando naqueles autofalantes, era de arrepiar qualquer um. Uma vontade de gritar “essa música é nossa”. Depois, uma viagem de trem, mais de três horas até La Plata.
Na Universidade estavam as maiores “cabeças” da Filosofia do Direito do mundo, o nº 1, naturalmente, Carlos Cossio (criador da teoria egológica que considera a ciência do direito como a ciência da experiência com base na cultura. Apóia-se na tríada: fato, valor e norma para apresentar o direito) também alguns brasileiros, destaque para Miguel Reale e o baiano Villa Nova, de Santa Catarina, Luis Fernando Coelho.
Estudantes brasileiros, apenas dois, o outro era um paranaense, que apareceu vestido com uma “jardineira” (esses macacões jeans que se vê em filmes americanos, usados por pessoas responsáveis por paisagismo e jardinagem) um violão nas costas e naturalmente disposto a mostrar a nossa música lá, com uma “canjinha para o “sweet baby James”, James Taylor e a interpretação de seu maior sucesso “You`ve got a Friend” (letra e música de Carole King).
As palestras eram com tradução simultânea, pela manhã e à tarde. Como os “opostos” se atraem, logo tínhamos formado o “bloco da boemia”, somados mais dois estudantes argentinos, o Gustavo acabou se tornando um grande amigo, era de Bahia Blanca, e um admirador do Sartre, logo, parecia que nos conhecíamos há 20 anos.
No terceiro dia do Congresso confessei para o Gustavo que, na condição de jornalista, eu estava muito “afim” de entrevistar o escritor Ricardo Rojo (ele tinha feito o livro “Meu Amigo Che”, biografia/reportagem sobre o médico revolucionário argentino e que fora proibido no Brasil, mas que eu tinha lido na clandestinidade). O Gustavo bem que insistiu, durante dois dias, em contato com a Associação Argentina de Escritores, e as inúteis tentativas de localizar o escritor. Sabia-se que estava no país, mas muito bem escondido por ser um “desafeto” da repressão argentina.
Well, não seria eu, um free-lancer a “entregar o ouro” para o inimigo. Para me consolar, na época, o candidato da União Cívica Radical, Raul Alfonsín estava em La Plata, em plena campanha para a indicação do partido, e contava com o apoio maciço dos universitários. O Gustavo me garantiu que a entrevista seria possível, mas ao invés disso, sugeri, depois de agradecer o seu empenho, que deveríamos visitar os sebos da cidade atrás das obras do Sartre que eu não tinha lido e que não se encontravam no Brasil, foi o que fizemos...
Alfonsín ganhou a indicação do partido em cima de Fernando de La Rua e a eleição, do Ítalo Luder, tomando posse no dia 10 de dezembro de 1983...
Sorry pela entrevista que não fiz, mas o livro “A Última Oportunidade”, do Sartre, só eu que tenho nesse País!
Ilustração: Gallo Sépia
Celso Martins, salve!
ResponderExcluirPor uma questão de honestidade com os fatos, observando o Certificado de Conclusão desse 1º Congresso Internacional de Filosofia do Direito realizado na Argentina, o qual menciono na crônica, a data correta aí no terceiro parágrafo, é outubro de 1982 e não em 1981, como saiu no texto...
Grato pela correção e desculpe-me o transtorno, um abração do viking
Olsen Jr.