5 de dez. de 2008

"A dor da gente não sai no jornal" (*)


Em Blumenau a "dor da gente" sai na rádio.

Os homens públicos envolvidos no socorro aos flagelados devem tirar uma manhã e ouvir o programa Espaço Comunitário, comandado por Joelson dos Santos na rádio Nereu Ramos (Blumenau) - de segunda e sexta, das 9 horas ao meio-dia. Ali estão os reclamos do povo, a angústia das pessoas comuns, a tragédia que se abate sobre aqueles que só querem trabalhar e viver, as preocupações do dia-a-dia. Acompanhar depoimento singelos e sinceros ajuda a evitar a tomada de decisões impensadas, como a suspensão temporária do recebimento de donativos.

Exemplos

- Dois ouvintes fizeram apelos veementes para que mais voluntários se desloquem até a Vila Germânica. É grande a quantidade de alimentos e outros donativos que precisam ser ordenados para distribuição. Dezenas de caminhões com donativos aguardam na fila a descarga.

- Um ouvinte que serviu o Exército em 1974 e socorreu os flagelados de Tubarão, sugeriu que os soldados ajudem na organização dos donativos para distribuição. "Se pedir eles atendem", garantiu.

- Uma ouvinte ligou para dizer que um vizinho tentou obter uma cesta básica e não conseguiu. Teve que voltar para casa de bicicleta, trêmulo e branco de fome.

- A dona da casa de número 1017 da rua da Glória diz: "Não fui atingida pela cheia mas estou sendo atingida pelo barro". Explico: servidores da Prefeitura estão tirando barro das imediações e jogando em seu terreno. O barro, úmido, já está afetando a casa. O fedor é insuportável.

- Uma senhora teve o filho, nora e netos retirados da residência num bairro em Blumenau. A Defesa Civil indicou a área como sendo de risco. Mas a Celesc instala postes para retomar o abastecimento. Outro ouvinte ligou para dizer que onde mora acontece a mesma coisa. Celesc e Defesa Civil em Blumenau não atuam coordenadamente.

- Sobram tensão, bate-boca e denúncias num abrigo em escola no bairro Jordão. Falta comida e água para muitos atingidos pelas cheias. Gente que não sofreu nada recebe cestas e coloca em estoque. É o que denunciam.

- A carne aumentou cerca de 25%. Onde o quilo estava a R$ 9,98 antes da tragédia, agora é vendido a R$ 13,00 e uns quebrados. Um ouvindo ligou reclamando.

(Anotações do programa na manhã de 5.12.2008)


(*) Título da postagem inspirado na música "De Frente Pro Crime”, de João Bosco e Aldyr Blanc.

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