A VOZ DO POVO
(O desmonte do PAO – Plano de Apoio à Oposição, em Santa Catarina)
Por Raul Longo (*)
Afluente do rio Ratones, próximo a um dos locais indicados
pela Casan para a construção da ETE que vai tratar os esgotos do
distrito de Santo Antônio de Lisboa. Foto: Bernardo Kraijnbrink.
(O desmonte do PAO – Plano de Apoio à Oposição, em Santa Catarina)
Por Raul Longo (*)
Afluente do rio Ratones, próximo a um dos locais indicados
pela Casan para a construção da ETE que vai tratar os esgotos do
distrito de Santo Antônio de Lisboa. Foto: Bernardo Kraijnbrink.
Nos tempos em que o povo não era escutado, dizia-se que sua voz era a voz de Deus, mas nem por isso se evitou muito cacete no lombo dos que ousavam protestar contra os desmandos das elites e dos governantes. Talvez o axioma fosse verdade, mas para tal haveria de se concluir que Deus era censurado com o apoio de certas instituições cristãs como a TFP, que dizia marchar em Sua companhia pela tradição, família e propriedade.
Mas as coisas mudaram e tá difícil, hoje em dia, relegar o vozerio popular ao zumbido das preces ou escondê-la em calabouços, pois censurar a voz do povo, ainda mais com o advento da internet, se faz impossível.
O único instrumento que sobrou às elites é a contra-informação. A manipulação da informação do fato real, a inversão da verdadeira vontade popular. Só para exemplificar como a coisa funciona, reproduzo a nota de coluna assinada por certa senhora de nome Maria Aparecida Nery, num pequeno jornal, provavelmente semanário, de profusa policromia perceptivelmente patrocinada por interesses e especuladores imobiliários. Dá a entender a autora que os moradores da comunidade do Sambaqui prefiram descartar seus “dejetos in natura no solo e nos cursos d’água... de onde – conclui – naturalmente, tudo vai parar no mar”.
Considerando que de 24 anunciantes do pequeno jornal da dona Maria Aparecida: “Ilha Capital”, 14 promovem serviços relativos ao segmento imobiliário e que, além do anúncio de ½ página do governo do estado, todos os demais do mesmo tamanho ou de página inteira são de empreendimentos do ramo, esse house organ da ocupação livre e indiscriminada da Ilha de Santa Catarina pela especulação imobiliária, suscita muitas sugestões sobre os reais interesses da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - CASAN - em transformar o belo manguezal da desembocadura do Rio Ratones em temporária cloaca.
Mas não incorramos em cogitações sem qualquer base de mínima informação, como faz a dona Maria Aparecida que sequer se preocupou em se inteirar sobre os laudos de pesquisas da UFSC que aferiram correnteza Zero a sul e norte do estreito canal marítimo que separa a Ilha do continente, onde diversas famílias sobrevivem da maricultura. Não sabe a dona Maria que isso significa que o que for lançado no rio e do rio ao mar, por aqui mesmo ficará.
Pedantismo blasé
Também não sabe que a própria CASAN reconhece que seu projeto de Estação de Tratamento de Esgoto, embora assegure filtragem de até 98% dos coliformes fecais, é ineficiente quanto aos nutrientes e metais pesados ingeridos por ostras e mariscos, moluscos bivalves que do mar vão à mesa, e da mesa à morte de quem os consome.
Mas esse pedantismo blasé ao que não é do interesse da especulação imobiliária é comportamento admirado por Dona Maria Aparecida, como se nota nos títulos de outras de suas matérias no mesmo exemplar daquele house organ: “STF detona ecochatos”, “Anulado embargo do IBAMA contra Obra” e “Sem ETE na Barra do Sambaqui” .
E assim desinformada e desinformante por falta ou excesso de interesses, ignora ou omite que a palavra de ordem reproduzida em camisetas e todos os materiais de divulgação do movimento dos moradores das comunidades do Cacupé, Santo Antonio de Lisboa, Sambaqui e Barra do Sambaqui é: Tratamento de Esgoto Sim! Esgoto no Mangue Não!
Os nomes destas pequenas, anônimas e aprazíveis comunidades, de repente se projetaram pela internet reproduzindo a voz de seus moradores ao se levantarem contra a criminosa decisão do Estado de Santa Catarina em jogar o esgoto da comunidade em um rio da localidade, só para aproveitar sobejos da verba destinada pelo governo federal, através do PAC.
Dividida em dois núcleos: Barra do Sambaqui e Sambaqui, a população da bucólica e confinada comunidade tem largo histórico de combatividade desde os anos 80, quando se cogitava a negociação com a Marinha do bosque da Ponta do Sambaqui para instalação de hotel com trapiche de atracação de lanchas e outros claros desrespeitos às tradições de sobrevivência de sua gente pesqueira.
Ainda naqueles anos de ditadura os jovens filhos dos pescadores se uniram contra os especuladores e exigiram da Marinha Brasileira a manutenção do respeito àquele rincão de usufruto popular onde se realizam as festas da comunidade, os pic-nic de finais de semana, passeios e prazerosos ou românticos namoros.
Formou-se, assim, a primeira Associação de Moradores do Município de Florianópolis, notabilizando-se o bairro como núcleo de reação aos desmandos e inconseqüências das chamadas autoridades públicas.
Ostras e mexilhões
A partir de então, percebendo-se visada pela paradisíaca beleza de sua paisagem, arquitetura e urbanismo, a comunidade vêm criando diversos eventos para manter a coesão e mobilização: gincanas, danças e brincadeiras de rua, blocos carnavalescos, exposições de seus artistas plásticos, festas religiosas e populares. Mobilizações que resultaram em arborização de praças, instalação de equipamentos de lazer e esportes infanto-juvenis, sinalização para visitantes, cuidados e vigilância entre outras ações dos próprios moradores que têm no pequeno bairro, uma extensão de suas casas.
Evidentemente, como em toda concentração humana, há as discordâncias e eventuais dissidências, mas qualquer ameaça à preservação da natureza ou às tradicionais atividades profissionais ou culturais da localidade, imediatamente reúne a todos em prol do bem comum. Foi o que se deu, por exemplo, quando um empresário de outro estado instalou uma casa sobre balsa para moradia e exploração da ostreicultura.
Desde os anos 90, as tranqüilas águas da baía têm sido utilizadas para criação de ostras e mexilhões como alternativa da atividade pesqueira, mas pôr alguém a morar sobre o mar é outra história e se as autoridades se fizeram despercebidas, os moradores de Santo Antônio e Sambaqui se manifestaram exigindo providências que retornaram os investimentos do empresário à sua terra natal ou para qualquer outro lugar que não aqui.
Mais recente, uma inusitada onda de violência alcançou o bairro e o comando da Polícia Militar decidiu pela impossibilidade de reinstalação de um posto policial que havia na entrada de Santo Antonio de Lisboa e fora retirado pelo governo anterior. Há dois anos e antes que as manifestações da comunidade fechassem o tráfego da principal via de acesso ao norte da Ilha, o posto permanece funcionando diariamente.
Ao final do primeiro semestre de 2008, através das verbas disponibilizadas pelo Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC do governo federal, a CASAN, como administradora terceirizou a obra de instalação do tronco do sistema que coletará o esgoto do Cacupé, Santo Antônio e Sambaqui. Perceptivelmente desqualificada para o trabalho e tendo provocando diversos transtornos à comunidade, a empresa teve seu contrato de terceirização anulado por força das manifestações dos moradores através de diversas reuniões, inclusive com a presença do Ministério Público.
Sob o mesmo financiamento federal, a CASAN já instalara duvidosas e problemáticas estações de tratamento como a do bairro da Tapera e tantas outras, pretendendo reproduzir uma similar junto ao manguezal e o Rio Ratones, no núcleo habitacional da Barra do Sambaqui para o qual sequer se prevê a coleta. De esgoto, aqueles moradores ficariam apenas com o mau cheiro que, em poucos anos inviabilizaria inclusive a atividade de todos os maricultores da Baía Norte de Florianópolis, além da biologia de uma estação ecológica administrada pelo IBAMA.
Piadinhas racistas
Com a arrogância própria dos especuladores do capital estatal ou, melhor dizendo, público, o presidente da CASAN respondeu as manifestações da comunidade afirmando que a Estação de Tratamento de Esgoto seria instalada “na marra”.
A mobilização dos moradores da Barra, do Sambaqui, de Santo Antônio e Cacupé estimulou outras comunidades, inclusive a da Tapera que ora se mobiliza pela suspensão do funcionamento da ETE ali instalada, altamente venosa à biologia aqüífera, inclusive as cultivadas pelos tantos produtores de ostras e mariscos de Santa Catarina.
Ainda que estatal, os rendimentos da CASAN sempre foram muito atraentes e garantiram bons empreendimentos hoteleiros aos familiares de seus ex-diretores. Associada a especulação imobiliária, a CASAN sempre encontra respaldo e apoio do setor e da mídia a ele dependente, como no pretenso informativo da dona Maria Aparecida que reproduz pérolas do que há de pior na imprensa nacional como o famigerado Reinaldo Azevedo da Veja e o, não menos, ex-assessor de Collor de Melo: Cláudio Humberto.
Também abrilhantam as mal traçadas linhas de sofrível redação dos redatores e diretores, piadinhas de forte cunho racista contra os palestinos, o governo e o partido do Presidente Lula, e máximas como a do conservador norte-americano Ben Shapiro, que bem reproduzem as perspectivas da publicação: “Chega de bons sentimentos. Não há nada de errado em tratarmos nossos inimigos como inimigos”.
Fascista, após cursar a high school de YULA Shapiro entrou em conflito com seus colegas e professores da Universidade da Califórnia, por considerá-los excessivamente liberais. Já o artigo de Reinaldo de Azevedo reproduzido no Ilha Capital é um arrazoado contra o IELA da Universidade Federal de Santa Catarina, por promover as Jornadas Bolivarianas que, a despeito do despeito do Reginaldo, tornará a ocorrer no próximo mês de abril.
Mas é isso: os reginaldos ladram e os bolivarianos passam, assim como a verdade da Voz do Povo fala mais alto do que a dos especuladores que ora se dissolvem nos desinteressantes houses organs de escusos e mal disfarçados interesses das elites.
Até aí tudo bem, faz parte da democracia e nossa função sempre foi essa mesma de desmontar planos como o desta versão do PAO – Plano de Apoio à Oposição. Só o que preocupa é a origem da verba para o financiamento do anúncio policrômico de meia página da referida edição. Terá vindo do PAC ou dos milhões destinados aos desabrigados e desassistidos de Blumenau?
Mas as coisas mudaram e tá difícil, hoje em dia, relegar o vozerio popular ao zumbido das preces ou escondê-la em calabouços, pois censurar a voz do povo, ainda mais com o advento da internet, se faz impossível.
O único instrumento que sobrou às elites é a contra-informação. A manipulação da informação do fato real, a inversão da verdadeira vontade popular. Só para exemplificar como a coisa funciona, reproduzo a nota de coluna assinada por certa senhora de nome Maria Aparecida Nery, num pequeno jornal, provavelmente semanário, de profusa policromia perceptivelmente patrocinada por interesses e especuladores imobiliários. Dá a entender a autora que os moradores da comunidade do Sambaqui prefiram descartar seus “dejetos in natura no solo e nos cursos d’água... de onde – conclui – naturalmente, tudo vai parar no mar”.
Considerando que de 24 anunciantes do pequeno jornal da dona Maria Aparecida: “Ilha Capital”, 14 promovem serviços relativos ao segmento imobiliário e que, além do anúncio de ½ página do governo do estado, todos os demais do mesmo tamanho ou de página inteira são de empreendimentos do ramo, esse house organ da ocupação livre e indiscriminada da Ilha de Santa Catarina pela especulação imobiliária, suscita muitas sugestões sobre os reais interesses da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - CASAN - em transformar o belo manguezal da desembocadura do Rio Ratones em temporária cloaca.
Mas não incorramos em cogitações sem qualquer base de mínima informação, como faz a dona Maria Aparecida que sequer se preocupou em se inteirar sobre os laudos de pesquisas da UFSC que aferiram correnteza Zero a sul e norte do estreito canal marítimo que separa a Ilha do continente, onde diversas famílias sobrevivem da maricultura. Não sabe a dona Maria que isso significa que o que for lançado no rio e do rio ao mar, por aqui mesmo ficará.
Pedantismo blasé
Também não sabe que a própria CASAN reconhece que seu projeto de Estação de Tratamento de Esgoto, embora assegure filtragem de até 98% dos coliformes fecais, é ineficiente quanto aos nutrientes e metais pesados ingeridos por ostras e mariscos, moluscos bivalves que do mar vão à mesa, e da mesa à morte de quem os consome.
Mas esse pedantismo blasé ao que não é do interesse da especulação imobiliária é comportamento admirado por Dona Maria Aparecida, como se nota nos títulos de outras de suas matérias no mesmo exemplar daquele house organ: “STF detona ecochatos”, “Anulado embargo do IBAMA contra Obra” e “Sem ETE na Barra do Sambaqui” .
E assim desinformada e desinformante por falta ou excesso de interesses, ignora ou omite que a palavra de ordem reproduzida em camisetas e todos os materiais de divulgação do movimento dos moradores das comunidades do Cacupé, Santo Antonio de Lisboa, Sambaqui e Barra do Sambaqui é: Tratamento de Esgoto Sim! Esgoto no Mangue Não!
Os nomes destas pequenas, anônimas e aprazíveis comunidades, de repente se projetaram pela internet reproduzindo a voz de seus moradores ao se levantarem contra a criminosa decisão do Estado de Santa Catarina em jogar o esgoto da comunidade em um rio da localidade, só para aproveitar sobejos da verba destinada pelo governo federal, através do PAC.
Dividida em dois núcleos: Barra do Sambaqui e Sambaqui, a população da bucólica e confinada comunidade tem largo histórico de combatividade desde os anos 80, quando se cogitava a negociação com a Marinha do bosque da Ponta do Sambaqui para instalação de hotel com trapiche de atracação de lanchas e outros claros desrespeitos às tradições de sobrevivência de sua gente pesqueira.
Ainda naqueles anos de ditadura os jovens filhos dos pescadores se uniram contra os especuladores e exigiram da Marinha Brasileira a manutenção do respeito àquele rincão de usufruto popular onde se realizam as festas da comunidade, os pic-nic de finais de semana, passeios e prazerosos ou românticos namoros.
Formou-se, assim, a primeira Associação de Moradores do Município de Florianópolis, notabilizando-se o bairro como núcleo de reação aos desmandos e inconseqüências das chamadas autoridades públicas.
Ostras e mexilhões
A partir de então, percebendo-se visada pela paradisíaca beleza de sua paisagem, arquitetura e urbanismo, a comunidade vêm criando diversos eventos para manter a coesão e mobilização: gincanas, danças e brincadeiras de rua, blocos carnavalescos, exposições de seus artistas plásticos, festas religiosas e populares. Mobilizações que resultaram em arborização de praças, instalação de equipamentos de lazer e esportes infanto-juvenis, sinalização para visitantes, cuidados e vigilância entre outras ações dos próprios moradores que têm no pequeno bairro, uma extensão de suas casas.
Evidentemente, como em toda concentração humana, há as discordâncias e eventuais dissidências, mas qualquer ameaça à preservação da natureza ou às tradicionais atividades profissionais ou culturais da localidade, imediatamente reúne a todos em prol do bem comum. Foi o que se deu, por exemplo, quando um empresário de outro estado instalou uma casa sobre balsa para moradia e exploração da ostreicultura.
Desde os anos 90, as tranqüilas águas da baía têm sido utilizadas para criação de ostras e mexilhões como alternativa da atividade pesqueira, mas pôr alguém a morar sobre o mar é outra história e se as autoridades se fizeram despercebidas, os moradores de Santo Antônio e Sambaqui se manifestaram exigindo providências que retornaram os investimentos do empresário à sua terra natal ou para qualquer outro lugar que não aqui.
Mais recente, uma inusitada onda de violência alcançou o bairro e o comando da Polícia Militar decidiu pela impossibilidade de reinstalação de um posto policial que havia na entrada de Santo Antonio de Lisboa e fora retirado pelo governo anterior. Há dois anos e antes que as manifestações da comunidade fechassem o tráfego da principal via de acesso ao norte da Ilha, o posto permanece funcionando diariamente.
Ao final do primeiro semestre de 2008, através das verbas disponibilizadas pelo Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC do governo federal, a CASAN, como administradora terceirizou a obra de instalação do tronco do sistema que coletará o esgoto do Cacupé, Santo Antônio e Sambaqui. Perceptivelmente desqualificada para o trabalho e tendo provocando diversos transtornos à comunidade, a empresa teve seu contrato de terceirização anulado por força das manifestações dos moradores através de diversas reuniões, inclusive com a presença do Ministério Público.
Sob o mesmo financiamento federal, a CASAN já instalara duvidosas e problemáticas estações de tratamento como a do bairro da Tapera e tantas outras, pretendendo reproduzir uma similar junto ao manguezal e o Rio Ratones, no núcleo habitacional da Barra do Sambaqui para o qual sequer se prevê a coleta. De esgoto, aqueles moradores ficariam apenas com o mau cheiro que, em poucos anos inviabilizaria inclusive a atividade de todos os maricultores da Baía Norte de Florianópolis, além da biologia de uma estação ecológica administrada pelo IBAMA.
Piadinhas racistas
Com a arrogância própria dos especuladores do capital estatal ou, melhor dizendo, público, o presidente da CASAN respondeu as manifestações da comunidade afirmando que a Estação de Tratamento de Esgoto seria instalada “na marra”.
A mobilização dos moradores da Barra, do Sambaqui, de Santo Antônio e Cacupé estimulou outras comunidades, inclusive a da Tapera que ora se mobiliza pela suspensão do funcionamento da ETE ali instalada, altamente venosa à biologia aqüífera, inclusive as cultivadas pelos tantos produtores de ostras e mariscos de Santa Catarina.
Ainda que estatal, os rendimentos da CASAN sempre foram muito atraentes e garantiram bons empreendimentos hoteleiros aos familiares de seus ex-diretores. Associada a especulação imobiliária, a CASAN sempre encontra respaldo e apoio do setor e da mídia a ele dependente, como no pretenso informativo da dona Maria Aparecida que reproduz pérolas do que há de pior na imprensa nacional como o famigerado Reinaldo Azevedo da Veja e o, não menos, ex-assessor de Collor de Melo: Cláudio Humberto.
Também abrilhantam as mal traçadas linhas de sofrível redação dos redatores e diretores, piadinhas de forte cunho racista contra os palestinos, o governo e o partido do Presidente Lula, e máximas como a do conservador norte-americano Ben Shapiro, que bem reproduzem as perspectivas da publicação: “Chega de bons sentimentos. Não há nada de errado em tratarmos nossos inimigos como inimigos”.
Fascista, após cursar a high school de YULA Shapiro entrou em conflito com seus colegas e professores da Universidade da Califórnia, por considerá-los excessivamente liberais. Já o artigo de Reinaldo de Azevedo reproduzido no Ilha Capital é um arrazoado contra o IELA da Universidade Federal de Santa Catarina, por promover as Jornadas Bolivarianas que, a despeito do despeito do Reginaldo, tornará a ocorrer no próximo mês de abril.
Mas é isso: os reginaldos ladram e os bolivarianos passam, assim como a verdade da Voz do Povo fala mais alto do que a dos especuladores que ora se dissolvem nos desinteressantes houses organs de escusos e mal disfarçados interesses das elites.
Até aí tudo bem, faz parte da democracia e nossa função sempre foi essa mesma de desmontar planos como o desta versão do PAO – Plano de Apoio à Oposição. Só o que preocupa é a origem da verba para o financiamento do anúncio policrômico de meia página da referida edição. Terá vindo do PAC ou dos milhões destinados aos desabrigados e desassistidos de Blumenau?
(*) Raul Longo, jornalista, residente em Sambaqui (Florianópolis-SC).
Contato: pousopoesia@gmail.com
Contato: pousopoesia@gmail.com
Sr. Raul:
ResponderExcluir1) Para usar a expressão "mal traçadas linhas", o Senhor deveria escrever bem melhor, pois há muitos erros de português no seu texto;
2) Estou no movimento comunitário há 30 anos, moro no Distrito há 12 e dirijo a AMOCAPÉ no quarto mandato e nunca tinha ouvido falar no Senhor. Liguei para um morador da Ponta e ele me disse que o senhor é aquele que tem uma "pousada", num imóvel construído sem licenciamento da SUSP, não possui o recuo (do muro) mínimo exigido pela legislação de afastamento da estrada geral, está dentro dos 33 m de terras de marinha, e, pasme, "aluga aptos". Se for verdade, isso sim seria especulação imobiliária. Ademais, com tanta ocupação em uma área tão pequena defronte ao mar, deveria ter tratamento para o esgoto produzido. Creio que foi isso que a Mª Aparecida quis dizer com "vai tudo para o mar";
3) Para quem invoca a democracia, você deveria respeitar a opinião alheia, ou seja, a divergência. Discordar é uma coisa, afirmar que não presta é juízo de valor e isso é tirania e não democracia;
4) Quanto a falar por Cacupé, por favor, abstenha-se, pois a nossa comunidade nem se manifestou a respeito da tal ETE, haja vista não haver projeto elaborado e tampouco EIA-RIMA;
5) A propósito de seu texto, leia minha carta no blog do Cacau, publicada em 16/03/09, às 16h44min;
6) Para encerrar: confirme para mim se a descrição de seu imóvel é a que me foi fornecida para que eu possa retificá-la. Afinal, são tão poucos os que têm moral para fazer ecologia no terreno do vizinho nesta cidade, que devemos sempre destacá-los e elogiá-los.
Ester Eloisa Addison
Presidente da AMOCAPÉ
Dona Ester: Atendendo sua solicitação, respondo item por item:
ResponderExcluir1)Erros de português, inclusive nesta resposta, eventualmente pode haver sim, pois uma coisa é um texto publicado, bem outra é um texto digitado para divulgação pela internet, onde se incorre até mesmo em naturais falhas de digitação.
Todo e qualquer texto, antes de impresso, há de ser revisado, por mais que o autor seja proficiente. Se diferente disso, não haveria a função de revisor em cada redação de jornal ou revista, editoras de livros, agências de propaganda, etc.
No entanto, Dona Esther, "bem traçadas linhas" não considero as que são escritas em português escorreito, seja na ortografia ou na gramática; mas sim as que atendam as regras mínimas de comunicabilidade, exigidas aos que se pretendam profissionais de jornalismo, seja em qual veículo for.
Escrever, certo ou errado, todos que não analfabetos escrevem. Comunicar já é outra história. Alguém que se queira jornalista, escrevendo como sua amiga, mais confunde a compreensão do leitor do que comunica algum fato. Mas, enfim, talvez seja mesmo esta a intenção.
2)Ainda que perdoável na senhora, por não ser profissional de comunicação, esta sua atitude de pedir que eu confirme uma informação pela qual desenvolve deplorável ilação (confessa, em seu próprio pedido de confirmação) para me acusar, seria motivo suficiente para processá-la caso a senhora a tivesse publicado da mesma maneira irresponsável com que sua amiga acusou toda uma comunidade, sem procurar se informar sobre a realidade dos fatos.
Não vou perder meu tempo consultando blog de Calhau nenhum e pouco se me dá se irá retificar ou não sua acusação baseada num trivial telefonema ou fofoca de vizinhos.
Mas não se preocupe Dona Ester, porque também não perderei meu tempo com processos de calúnia e difamação contra sua pessoa, a menos que venha a encontrar suas palavras impressas. Também não perderei meu tempo confirmando-lhe coisa alguma. Afinal, se você se considera com moral para acusar alguém por ouvir falar e diz-que-diz-que, trate de averiguar por si mesma.
No entanto, gostaria de lhe recomendar que pesquise sobre qual foi a segunda edificação (residencial ou comercial) do distrito de Sto. Antônio de Lisboa que instalou sistema própria de tratamento de esgoto, desenvolvido por tecnologia alemã. Seria divertido, dona Esther, apreciar sua surpresa e desapontamento em ter deixado a língua crescer por um mero telefonema. Cuidado dona Esther, pois nesses casos sempre se corre o risco de lamber do lado errado, como ocorreu na matéria da sua amiga.
Aliás, já que ela é perceptivelmente relacionada ao ramo imobiliário, consulte-a sobre os direitos de locação de imóvel previstos pela legislação brasileira e de praticamente todos os países democráticos. A senhora mesma, com tantos anos residindo no município, dá impressão de ter se criado em Cuba, onde qualquer atividade como essa que usa para me acusar, depende de rigoroso controle do estado. Também admirável que, como dirigente de uma Associação de Moradores, desconheça a área mínima de ocupação em toda a região litorânea da Ilha.
Ah! Sim... A informação de seu telefonema é de que eu tenha construído um cortiço em área de marinha. O seu informante está muito mal informado, mas é simples dona Esther. Pegue um automóvel ou apanhe o ônibus e venha até a Ponta do Sambaqui. Para localizar minha casa, procure pela única cujo proprietário, ao adquirir um imóvel com aproximadamente 30 anos de construção, há 12 anos, teve o cuidado de mandar instalar fiação subterrânea. É assim: os postes estão do lado da praia e deles sai a fiação de fornecimento de energia, telefonia e TV a cabo para as residências e comércios do outro lado da antiga Estrada Geral do Sambaqui. São têm fios aéreos que atravessam a rua, inevitavelmente provocando alguma poluição visual. Na Ponta do Sambaqui, aonde isso foi evitado é exatamente minha propriedade que supera a exigência de área mínima também em distância entre a grade vazada de ferro, instalada sobre pequeno muro de pedra erigido no mesmo limite da calçada respeitado por meus vizinhos. A senhora e seu desinformado informante poderão divisar meu jardim, no qual se instala o sistema de tratamento de esgoto projetado para uma ocupação máxima de 20 pessoas, o que nunca consegui atingir nem em dias de festa.
Outra informação que faltou ao seu informante dona Esther, apesar das relações que ele mantém com a Prefeitura, é que, segundo informações da própria PMF, para uma residência ser considerada pousada, se faz necessário que funcione como pousada: ter determinado número de quartos que superam os de minha casa, ter uma placa na frente apresentando-se como tal ou anunciar em jornaizinhos como os de sua amiga, por exemplo.
Nada disso me caracteriza, embora eu tenha, de fato, dado um nome à minha casa, inscrito numa placa que instalei no meu jardim, como em outros se instalam placas com dizeres como: “Rancho do Vovô”, “Refúgio do Pirata”, ou coisas do gênero. Como não tenho netos e tampouco me identifico com piratas, mas sendo poeta e escritor cujos livros a senhora poderá adquirir em sites especializados da internet, preferi homenagear o pôr de sol da Ponta do Sambaqui e batizei-a como Pouso da Poesia. E isso é tudo o que se lê nesta placa, ainda que a legislação brasileira e da maioria dos países livres e democráticos do mundo me permita dispor da forma que bem entenda das dependências de minha residência, desde que não incomode nem avilte meus vizinhos e minha comunidade. O que nunca fiz, sequer por telefone.
3)As suas próprias palavras e comportamento Dona Esther, esclarecem suficientemente que seu senso democrático é tão reduzido quando o da amiga que defende. A senhora se demonstrou tão inconseqüente em julgar-me de forma tipicamente tirânica além de ridícula, quanto sua amiga ao afirmar que as comunidades do Sambaqui, Santo Antonio e Cacupé prefiram viver sobre dejetos a ter esgoto tratado, sem conhecer as verdadeiras reivindicações destas comunidades. De forma que este item desconsidero.
4)Mesmo desconsiderando o item anterior, volto a me reportar a ele aqui, já que seu distorcido e canhestro entendimento da palavra democracia a faz crer-se dona do Cacupé. Se assim a senhora se compreende pouco me importa, pois não falei do Cacupé por sua pessoa, e sim pelos tantos amigos que aí tenho e que nunca presidiram Associação alguma, mas como nascidos e criados no bairro se solidarizam com todos os demais do distrito, seja Sambaqui, Santo Antonio ou Barra do Sambaqui. Com tantos anos de movimento comunitário, ainda não se apercebeu dessa realidade? Não sabe que temos muitas famílias integradas por moradores em cada uma de nossas comunidades?
5)Esse item já respondi e reitero. Não me preocupo nem um pouco com o que tenha escrito sobre mim seja lá onde for, mas caso não saiba, todos temos de ser responsáveis por acusações divulgadas da forma que for, sobretudo impressas, e estar cientes de que processos pelas que não sejam justificáveis resultam em ressarcimentos pecuniários de alguma monta.
6)Para encerrar Dona Esther, a informo que também nunca ouvi falar de sua pessoa. Ouvi, sim, há dois anos, justificarem a não participação da Associação do Cacupé nas reuniões das demais do distrito para a instalação do posto policial que coibiu a violência que grassava inclusive neste bairro; pelo caráter prepotente e arrogante de sua presidente. Não sei nem me preocupei em saber de quem se tratava. Confirme se era você. Mas não se preocupe, porque mesmo que não confirme não irei divulgar tais acusações por mero ouvir falar. Não apenas porque não seja afeito a futricas, mas, sobretudo para não me expor ao ridículo de afirmações que depois tenha de retificar para que minha ignorância não me custe um processo de difamação pelo que não tenha condições de confirmar.
Raul Longo
Prêmio Nacional de Literatura Unibanco/Editora Abril/Rede Globo - 1979
Prêmio Miguel de Cervantes - 1982
Prêmio de Concurso de Contos do Paraná - 1989
(e, o que de fato importa: democrático no real sentido da palavra)
Sr. Raul:
ResponderExcluir1) Acabei de voltar da Ponta do Sambaqui e conheci pessoalmente seu imóvel. Como Mestre em Gestão Ambiental e há anos trabalhando com Direito Urbano e Ambiental, (inclusive me formo em Direito pela UFSC no final deste ano) pude constatar que seu imóvel está mais irregular do que me foi informado. Dar como desculpa que seu muro está recuado tal como de seu vizinho é uma vergonha para quem quer criticar os outros. É a mesma desculpa de outros falsos moralistas que dizem: "não construí uma fossa séptica aprovada na Vigilância Sanitária, poque não tive tempo", ou então: "não recuei o muro, porque precisava daquele pedacinho", ou: "não obtive licenciamento da SUSP, porque dá muito trabalho". Afinal, justificar nossos erros pelos dos demais é hipocrisia e mera desculpa para não agir dentro da lei. Apresente seu "Habite-se" e aí sim, poderá julgar e criticar os demais;
2) quanto à prepotência da pessoa que lhe escreve: em Cacupé só há uma entidade comunitária: a AMOCAPÉ, hoje considerada uma das maiores e mais mobilizadas do Município. Como presidente não tomo nenhuma atitude que não esteja referendada pelo seu Estatuto e pela soberania das suas assembléias. Consierando que as demais entidades do Distrito de Santo Antônio de Lisboa recusaram-se a participar ativamente de questões como: Posto de Saúde, Pavimentação da Padre Rohr e, principalmente, "Oposição veemente à alteração de zoneamentos para regulizar construções irregulares", decidimos não participar mais, uma vez que consideramos que o movimento comunitário deva ser apartidário e, constantemente, mobilizado para não somente agir em períodos eleitorais ou para atender a interesses particulares.
Por enquanto é só, pois estou sem tempo.
Ester Eloisa
Continuando Sr. Raul: o seu imóvel não funciona como pousada é? Então deveria também processar dezenas de sites que, na web, dizem exatamente o contrário. Alguns para ilustrar:
ResponderExcluirhttp://www.apontador.com.br/local/sc/florianopolis/hoteis_e_pousadas/MY78TCFJ/pouso_da_poesia.html
http://www.canasvieiras.com.br/pousodapoesia/
http://traveler.com.br/brasil/florianopolis-sc/pouso-da-poesia/
http://www.cce.ufsc.br/~humble/hoteis.htm
Ou seja: só o Senhor e a Prefeitura não sabem disso.
Ester Eloisa
Dona Ester:
ResponderExcluirObrigado dona!
Nem eu não sabia que tantos endereços da internet me publicam como pousada, embora alguns me fossem informados por amigos que os produziram. Se assim o entendem, não tenho nada a reclamar. Caso a Prefeitura o tenha, que me comunique e tento contatar os administradores destes endereços para lhes explicar que, conforme comuniquei a PMF assim que aqui me estabeleci, de fato disponho de quartos em que hospedo amigos e amigos de amigos.
Conforme já lhe escrevi e a senhora não conseguiu ou não quis entender, a PMF desconsiderou necessário que registre meu imóvel como tal, visto que o número de acomodações que possuo sequer justificaria promoções publicitárias. O que não faço, embora alguns endereços da internet tenham resolvido me agraciar com a divulgação de que diz.
A senhora também não conseguiu ou não quis depreender do que escrevi sobre ter adquirido esse imóvel já construído há décadas. Embora não lhe diga respeito, mas atendendo a sua ansiosa especulação, informo que através de certificado de viabilidade do IPUF e com acordo da SUSP, assinado pelo Secretário da época, celebrou-se o contrato de compra e venda da residência e do terreno de mais de 500 m2 com escritura pública lavrada em cartório de registro de imóvel e pelos quais regularmente pago o IPTU que inclui duas edificações, entre diversas áreas livres destinadas a jardins, estacionamento, quintais, patamares, escadas, mirantes, etc.
A única modificação na questão do recuo que tanto a incomoda, foi que retirei os dois ou três degraus que avançavam do portão para a calçada, criando um rebaixo para dentro do portão, permitindo o acesso ao terreno de meio metro acima do nível da calçada que a preocupa. Desta forma, dona, eliminei os degraus que, avançando sobre o passeio, estorvavam o eventual e raro trânsito de pedestres.
Já que a senhora, como experiente Gestora Ambiental, concluiu que a calçada, minha e de meus vizinhos, está mais irregular do que lhe foi informado, acione, dona, a PMF para que nos informe o recuo que lhe pareça mais apropriado. No entanto, claro que se o fizer apenas no meu caso e de meus vizinhos mais próximos, será de um deslavado e evidente falso moralismo de que a senhora se faz tão presta em atacar, embora defenda a ETE na Barra do Sambaqui, mas não convide a Casan a instalá-la no seu bairro.
Como é mesmo que a senhora diz? Ecologista no quintal dos outros, não é isso? Gostei da frase.
Ainda assim, de uma coisa a senhora pode ter certeza dona Esther: se liderar uma mobilização comunitária contra a falta de calçada em praticamente todos os 3 kms. da Estrada Geral do Sambaqui, principalmente do lado da área de marinha, onde o espaço que deveria ser do pedestre é totalmente tomado pelos muros de mansões beira mar, praias e costeiras, eu a apoiarei incondicionalmente. Ainda que tenha de convencer meus vizinhos a que todos devamos aumentar a largura de nossas calçadas que, embora existam, desde que aqui cheguei também considerei que poderiam ser mais espaçosas. Não só as do Sambaqui, como as de todo o município.
E então dona Esther? Topa a empreitada ou a senhora só fala grosso quando é contra os interesses das comunidades mais populares, como a da Barra do Sambaqui?
Já quanto as suas relações e comportamentos com as demais Associações de Bairro do Município é coisa que pouco me interessa, embora, confesso, continue estranhando uma pessoa de tanta atividade comunitária que defenda uma detratora, por mais amiga que seja, de sua própria comunidade. Da mesma forma que acho estranhíssimo um Gestor Ambiental defender destruição de nicho ecológico, e continue estranhando alguém que se diz democrata, fazer tanto empenho em procurar criminalizar alguém, apenas por ter discordado da opinião de uma sua amiga que acusou um movimento comunitário, sem sequer ter o cuidado de verificar qual a reivindicação desse movimento.
De toda forma foi muito providencial esta sua vinda até minha casa, pois certamente lhe tenha possibilitado perceber que, ao contrário da inconseqüente e ofensiva afirmação de sua amiga, o que a comunidade do Sambaqui quer não é viver sobre dejetos. Muito pelo contrário, o que querem as comunidades do Sambaqui, Santo Antonio de Lisboa, Barra do Sambaqui e, inclusive, do bairro cuja Associação de Moradores a senhora preside é “Tratamento de Esgoto Sim”, ainda que NÃO a custa da destruição do mangue e da baía norte, conforme se inscreve nos cartazes presos aos postes do caminho que a senhora percorreu para averiguar pessoalmente o recuo de minha calçada.
Sendo uma mensagem curta, acredito que o sentido do texto destes cartazes tenha lhe sido ainda mais inequívoco do que imprevidências de antigas administrações municipais no que se refere a falta ou exigüidade de passeios públicos.
Assim sendo, dou-me por satisfeito, inclusive por qual seja sua providência quanto a questão de minha calçada ou utilização que destino aos cômodos de minha residência. Espero que, tanto quanto eu, a senhora tenha o que mais e de melhor a fazer e, para contemporizar, revelo que nesta sua réplica a senhora conseguiu amenizar a imagem que fiz da Presidente da AMACOPÉ pelas informações de 2 anos atrás e o comentário corrente entre aqueles que a conhecem ou de si ouviram falar.
Sr. Raul, ajudar-lhe-ei a amenizar ainda mais a minha imagem:
ResponderExcluir1) Em 9 anos de elaboração do nosso Plano Diretor Distrital, ao final dos trabalhos, o PD da Barra do Sambaqui sequer havia sido discutido e proposto com a comunidade envolvida, pois "aquele" que se dizia ser seu representante NÃO havia feito nenhuma reunião com a comunidade. No entanto, participava das reuniões conjuntas com o IPUF como se legitimidade tivesse para tal. Ao fim e ao cabo, para não deixar a comunidade da Barra desamparada, eu, presidente da AMOCAPÉ, desloquei-me, por diversas vezes, de Cacupé à comunidade para, com aqueles que se propuseram, elaborar uma proposta para o Plano, a qual, persiste até hoje, com pouquíssimas mudanças;
2) Nesse período, aprovamos em conjunto (as entidades comunitárias dos 4 bairro do Distrito) a alteração de zoneamento para alocar o TISAN com a condição de alocar ali o novo posto de saúde distrital. Ao fim e ao cabo, a alteração serviu para alocar o TISAN e o CESUSC e a comunidade nada ganhou com isso. Eu fui a única liderança do Distrito a querer me insurgir contra isso e a cobrar a instalação de um novo posto de saúde junto ao TISAN conforme o combinado com a Prefeitura, mas, desisti, ao ver que nenhuma outra entidade ou liderança do distrito quis fazê-lo;
3) Durante a elaboração do Plano Diretor, alguns moradores do Distrito propuseram alterações de zoneamento em suas propriedades ou para triplicar os seus valores ou para regualarizar seus imóveis construídos sem licenciamento e, pasme, nenhuma entidade ou liderança se insurgiu até hoje contra isso. As propostas continuam no novo PD a ser aprovado;
4) Na última audiência pública distrital, dia 14/05/08, depois de encerrada a referida sessão, houve aprovações relativas ao nosso distrito sem o devido referendo pela comunidade envolvida. A AMOCAPÉ foi a única entidade a ingressar na justiça pedindo a nulidade do feito;
Ao longo desses últimos 10 anos, eu poderia citar uma lista enorme de omissões e ações absolutamente reprováveis do ponto de vista democrático por parte de muitos que usam da dialética para confundir e deturpar os fatos.
Então, antes de criticar e julgar posições alheias, convém voltar-se para análise de sua própria militância. Afinal, não é à toa, que a mobilização da comunidade distrital cresce como rabo de cavalo, porque, os interesses particulares de alguns preponderam sobre o interesse coletivo, difuso e público.
Ester Eloisa
Dona Esther:
ResponderExcluirMesmo desconhecendo ou não tendo acompanhado as ações e ocorrência que descreve nesse seu relato, cumprimento-a por sua perseverança e determinação, qualidades necessárias àqueles que se predispõem à liderança comunitária, como no seu caso, e espero que possa servir de exemplo a todos que, em nosso distrito, correspondam a seu cargo aí no Cacupé.
Somos, como é toda a Ilha de Santa Catarina, um conjunto de belezas naturais tão frágil quanto valioso e cobiçado por múltiplos interesses especulativos, e se nos exemplificarmos nas imprevidências daqueles que se resumem aos ganhos imediatos, financeiros ou políticos, sem dúvida terminaremos por ser as vítimas maiores, pois aqueles são corporativos e dispõem de aliados com poderes de influência e de divulgação. É ilusão acreditarmos em benefícios individuais ao surrupiar alguns centímetros a mais de terreno, despejar nosso lixo no vizinho, ou destinarmos nossos dejetos às águas que poderá matar nossa sede.
Infelizmente, Dona Esther, nossos poderes públicos, que deveriam ser os primeiros a apontar exemplos como o que a senhora relata, são os primeiros a nos demonstrar que a razão não se pauta pela consciência com as gerações futuras, mas sim pelo poder do capital.
Quando, impotentes, testemunhamos o desaparecimento de nossas praias atrás de interesses imobiliários e comerciais capazes de comprar o beneplácito acordo daqueles que nas campanhas eleitorais nos prometem mundos e fundos para depois entregarem fundos e mundos aos que melhor lhes pagar; desenvolvemos a impressão de que o jeito é obtermos alguma vantagem para não sermos soterrados pelas tão vantajosas condições da elite econômica.
Nada mais equivocado, pois ao copiar as imprevidências que nos vitimam, seremos igualmente imprevidentes transferindo como herança aos nossos filhos o agravamento do presente, mas não deixaremos de ser as vitimas. E eles, os especuladores e seus herdeiros, depois que dilapidarem a natureza que deveria ser nosso bem comum, procurarão outras Florianópolis quanto tantas já destruíram por todo o mundo. E, por certo, encontrarão outros políticos dispostos a se vender.
No entanto, Dona Esther, não vejo outra forma de combatermos em nossa defesa a não ser nos unindo democraticamente pela conscientização de cada um de nós, superando nossas discordâncias, entendendo nossas diferenças, buscando nossas convergências.
Muito fácil criminalizar ou acusar o erro de alguém, no entanto é totalmente inócuo. Mais difícil é explicar, demonstrar, conversar, estabelecer e manter um diálogo, mas essa é a verdadeira atitude democrática e única capaz de se reproduzir pelos indivíduos de qualquer comunidade e promover uma consciência de que o interesse de cada um está intrinsecamente relacionado ao interesse de todos, independente de classes sociais ou qualquer outra prerrogativa.
Qual o sentido de se criticar, hoje, os moradores da Barra do Sambaqui por despejarem seus dejetos no Rio Ratones, se aqueles que foram eleitos e são regiamente pagos para educar o povo e prestar serviços de coleta, nunca cumpriram com suas funções, nem deram exemplo algum? Ou melhor, deram exemplos bem mais impactantes contra o meio-ambiente.
E qual o sentido em defender uma falsa solução para o problema presente, se todas as evidências são de que não passa de uma protelação e agravamento? Evidências claras e não apenas percebidas pela população leiga, atestadas por especialistas de entidades idôneas com largo histórico de contribuições a toda a sociedade, como a UFSC, foram finalmente reconhecida até mesmo por aqueles que a propunham.
Não a reconhecessem, porquê Valmor de Luca voltaria atrás em sua arrogância ao prometer a ETE naquele local, mesmo que fosse “Na marra!”? Porquê acusar a comunidade por uma reivindicação tão obviamente legítima?
É de se perguntar onde ficou a crítica democrática, quando da ausência de democracia? Onde fica o senso de respeito à opinião alheia, quando a CASAN desrespeitou a opinião dos moradores da Barra do Sambaqui, decidindo-se pela instalação da ETE sem qualquer consulta popular?
Não se pode justificar o erro da CASAN pelos erros das lideranças daquela comunidade que a senhora descreve (talvez com razão, mas isso cabe a estas lideranças responder), como não se pode justificar os erros contra a população do Iraque por Sadam Hussein, ou dos Estados Unidos por Bush.
Até porque, como entendem muitos amigos do Cacupé com os quais conversamos sobre o assunto, se em 2 anos os vitimados pelo lançamento dos nutrientes e metais pesados lançados pela ETE da CASAN no Rio Ratones serão os moradores do Sambaqui, em 5 serão os de Sto. Antônio e em 7 os do próprio Cacupé. Da mesma forma que todos somos vitimados a cada verão em que é suspensa a comercialização da ostreicultura no sul da Ilha, pelos mesmos motivos! Aquele turista que é informado da contaminação, mesmo que não seja um consumidor desse molusco cuja produção nos distingue nacionalmente, receoso da balneabilidade de nossas praias procurará por outras, limitando o nosso já restrito mercado de trabalho e propulsionando toda uma cadeia de conseqüências que pode chegar até no crescimento da violência por falta de condições de sobrevivência, e que tanto nos assusta.
Em que bases, então, se ofende a população de todo um distrito, afirmando que prefira lançar seus dejetos em natura sobre o solo em que vive? Que de aí esses dejetos alcancem o mar é óbvio! Isso não precisaria ser escrito! Mas qual respeito se deva ter com quem escreve ser isso uma preferência de nossa comunidade, sem sequer se preocupar sobre quais sejam as reivindicações de nossa comunidade?
Que tal imprevidência de raciocínio ocorra ao cidadão comum é compreensível, mas a quem se responsabiliza pela assinatura de uma crítica jornalística não se perdoa, pois deveria de, antes de sua assinatura, responsabilizar-se pela condição de formador de opinião. E quem não se respeita por isto, não espere respeito de seus eventuais leitores. Como aprendemos de nossas avós: “Quem fala o que quer, ouve o que não quer”.
O cidadão comum, infelizmente, não tem voz. Precisa de quem fale por ele: de suas lideranças, dos meios de comunicação, de seus representantes políticos.
Eu sou um cidadão comum, Dona Esther, ainda que privilegiado por mediana capacidade de expressão escrita da qual faço uso sempre que percebo abusos de privilégios em detrimento do homem comum, seja por políticos (o que me causou sérios problemas no período da ditadura militar), por pretensos profissionais de comunicação (como a sua amiga), ou falsas lideranças (como as que a senhora descreveu).
Essa é a arma democrática de que disponho e entendo que seja muito inferior às suas armas, porque me é claro que o que mais necessitamos, principalmente nesta nossa Ilha invadida por tantos interesses espúrios, é de efetivas lideranças tão perseverantes e fiéis aos legítimos interesses comunitários como a senhora se descreve. A mim, me cabe, apenas, oferecer meus voluntários serviços a estas pessoas, como já o fiz aos presidentes das associações que conheci aqui e além de nosso distrito, seja de moradores ou defensores da preservação da qualidade ambiental.
E é com essa intenção, Dona Esther, que lembro caber ao verdadeiro líder saber relevar as falhas cometidas ao longo do processo de defesa dos interesses comunitários, considerando quão difícil às vezes se torna a natureza voluntária desse trabalho, ou acirrada a influência daqueles que o usam com outros objetivos, e tantos outros fatores que muitas vezes desvirtuam iniciais boas intenções, a serem mais facilmente resgatadas com diálogo e compreensão do que com arrivismo e intolerância.
Tantos são os erros contra nós praticados, que se ficarmos impertinentemente cobrando os que praticamos, jamais seremos capazes de formar uma força contra os que nos são contrários. Infelizmente, Dona Esther, as falhas de nosso sistema são tantas, que muitas vezes somos levados a errar mesmo quando não o desejamos.
Veja, por exemplo, essa minha situação de ter uma residência que pretende ser pousada, sem poder ser. Para que o fosse, teria de constituir uma firma, contratar contador e pagar impostos. Custos que superariam minhas possibilidades de rendimento. Para tanto, eu precisaria ampliar meu espaço físico e quantidade de acomodações.
Paradoxalmente, se me voltei a esta atividade abandonando a de jornalista e publicitário, foi exatamente para que me sobrasse tempo e pudesse me dedicar à outra muito valorizada em alguns países, exatamente por sua contribuição comunitária e voluntária, mas não aqui no Brasil onde apenas reduzidíssimos e notáveis exemplos alcançaram a proeza de sobreviver exclusivamente por ela (para ser mais exato: Jorge Amado e Paulo Coelho).
Em uma época que eu tinha condições de aquisição, me foi oferecido o terreno ao lado, onde a antiga proprietária era a mesma que me vendeu o imóvel que possuo e ali construiu uma casa idêntica à esta que dela comprei. Seria a solução, pois bastaria retirar o muro para já ter um porte de verdadeira pousada, aumentando meu patrimônio e meus rendimentos. No entanto, eu deixaria de ser alguém que hospeda amigos, e me tornaria hoteleiro, necessitando de certo número de funcionários e com funções diárias que ocupariam o tempo que necessito para minhas atividades literárias.
Preferi não ser pousada. Mas, ainda assim, os amigos que recebo vêem de diversas partes do Brasil, do continente e de ambos os hemisférios do mundo. Contribuem não apenas para a divulgação e o comércio de Florianópolis, mas também na realização de eventos como é o caso de um dos endereços que a senhora levantou pela internet, de Phillipe Humble, um amigo professor da UFSC, que já retornou ao seu país: Bélgica, e na época se utilizou daquele expediente para me indicar aos participantes de um colóquio lingüístico aqui realizado, mas que não tinham condições de custear valores hoteleiros. Foi evento de uma única semana, mas ficou ali como lixo eletrônico, dando a impressão de que faço muita divulgação de minha casa, coisa que nem se justificaria por não ter o que oferecer.
Um desses amigos que me visitam regularmente é o urbanista Flávio Malta, representante da Universidade de Oxford no Brasil para assuntos de meio ambiente e que, como tal, muito contribuiu com a Estação Ecológica de Carijós durante o I Congresso do Mar em Lisboa. Boa lembrança para que me disponha a avisá-la quando ele tornar a me visitar, provavelmente no meio deste ano, caso deseje alguma contribuição a sua função de Gestora Ambiental; mas o que quero dizer é que a despeito de não nos incluirmos entre os contribuintes de impostos comerciais, de toda forma incluímos um significativo fomento para o turismo, uma atividade tão crucial para a economia de nossa Ilha impossibilitada de outros incrementos econômicos que não o comércio, além das funções públicas.
Conjugo os verbos no plural porque sei que além de mim, existe por todo o município diversas pessoas que, como eu, dispõem dos aposentos de suas residências para a acomodação de turistas, o que em países da Europa é conhecido como coffee/room e corresponde a considerável implemento, sendo a modalidade preferida de hospedagem tanto por ser mais econômica quanto por promover maior interatividade cultural e humana.
Como Gestora Ambiental e líder comunitária, certamente a senhora possui relações junto a administração municipal e poderia sugerir um cadastramento e desenvolvimento de relações com os proprietários de imóveis destinados a estas atividades para que, a exemplo da Europa, recebam incentivos e orientações como, por exemplo, na instalação de sistemas próprios de tratamento de esgoto e reaproveitamento de águas, inclusive as pluviais, para descargas de vasos sanitários, ou instalação de sistemas de aquecimentos solar. Corresponderia a uma enorme economia de recursos hídricos e energéticos em benefício não só desses proprietários, mas também dos serviços públicos que em todas as temporadas se tornam deficitários.
Além desses aspectos, há outros com que a municipalidade poderia retribuir a contribuição desses proprietários que não tem como nem porque investir em divulgação publicitária. Incentiva-se o turismo com a divulgação de uma relação desses endereços onde se oferece um aposento para dormir e café da manhã, como o fazem as agências governamentais de turismo de cada estado, província ou município europeu, e, como lá, a municipalidade mantém o controle de higiene e qualidade dos serviços oferecidos por particulares que não tenham condições ou interesse em se tornar pessoas jurídicas, mas assim mesmo contribuem pelo mais ativo e rentável mercado turístico do mundo, depois de Nova Iorque e Disneylândia.
Enfim, como vê, conversando cordialmente sempre podemos trocar boas idéias e sugestões que contribuam com a evolução do todo.
E assim despeço-me, desejando-lhe um excelente final de semana.