Gilson começou a perguntar aos colegas se alguém havia visto um pequeno pacote verde que ele trouxera, contendo uma caneta esferográfica de gel (com tinta em estado gelatinoso e, portanto, muito mais suave e eficiente do que as esferográficas comuns e baratas, que usam essas tintas que chegam a escorrer da ponta metálica e mancham de não sair mais da roupa ou borram vergonhosamente o papel sobre o qual se escreve) e outros materiais de trabalho. Ninguém sabia do paradeiro da coisa. As meninas lembravam de tê-lo visto chegar com o pacote, que lhes chamou a atenção por causa do endereço de shopping que estava impresso na embalagem, mas não tinham qualquer ideia de onde ele teria ido parar. Com os rapazes, o resultado de suas indagações foi ainda pior: ninguém havia reparado nele, Gilson, quando chegou nem em qualquer coisa singular que ele pudesse carregar consigo.
Menos Marcelo. Que, distraído, não percebera a movimentação provocada por Gilson, a agitação que ele começava a levantar, a inquietação crescente e aflita do companheiro. Inquirido, Marcelo retornou à realidade imediata e, de forma absolutamente casual, comentou que achava, sim, que sabia de alguém que teria notícias do pequeno pacote de plástico verde.
- E onde está o pacote? - Gilson quer saber. - Preciso dele agora.
- Mas eu não sei onde ele está, eu acho. O que parece é que eu sei de alguém que sabe dele.
- Quem é que sabe dele?
- Não é tão fácil assim de responder a esta pergunta. Imagina que podem ter pedido para mim para eu guardar segredo. E quando alguém pede segredo, a gente tem que respeitar, não é mesmo?
- É, talvez seja. Mas preciso do meu pacote. E, além disso, ele é meu.
- Fácil, meu amigo. Ainda bem que somos amigos. Somos amigos, não é verdade, Gilson?
- Claro, Marcelo. E então?
- Olha, me dá aí um real - só um realzinho, coisinha pouca, bem baratinho - que eu consigo o teu pacote na hora.
- Não tenho dinheiro algum aqui comigo. Posso te pagar amanhã?
- Claro! Amigo é pra essas coisas, um ajuda o outro. Traz o dinheiro amanhã. - Dedo em riste: - Mas, se não trouxeres, já sabes o que vai acontecer, não é?
Os dois são colegas de escola. Marcelo está com oito anos, Gilson com sete. Daqui a pouco serão adultos. São, pois, o futuro do Brasil - e, mais ainda, o futuro da civilização.
Menos Marcelo. Que, distraído, não percebera a movimentação provocada por Gilson, a agitação que ele começava a levantar, a inquietação crescente e aflita do companheiro. Inquirido, Marcelo retornou à realidade imediata e, de forma absolutamente casual, comentou que achava, sim, que sabia de alguém que teria notícias do pequeno pacote de plástico verde.
- E onde está o pacote? - Gilson quer saber. - Preciso dele agora.
- Mas eu não sei onde ele está, eu acho. O que parece é que eu sei de alguém que sabe dele.
- Quem é que sabe dele?
- Não é tão fácil assim de responder a esta pergunta. Imagina que podem ter pedido para mim para eu guardar segredo. E quando alguém pede segredo, a gente tem que respeitar, não é mesmo?
- É, talvez seja. Mas preciso do meu pacote. E, além disso, ele é meu.
- Fácil, meu amigo. Ainda bem que somos amigos. Somos amigos, não é verdade, Gilson?
- Claro, Marcelo. E então?
- Olha, me dá aí um real - só um realzinho, coisinha pouca, bem baratinho - que eu consigo o teu pacote na hora.
- Não tenho dinheiro algum aqui comigo. Posso te pagar amanhã?
- Claro! Amigo é pra essas coisas, um ajuda o outro. Traz o dinheiro amanhã. - Dedo em riste: - Mas, se não trouxeres, já sabes o que vai acontecer, não é?
Os dois são colegas de escola. Marcelo está com oito anos, Gilson com sete. Daqui a pouco serão adultos. São, pois, o futuro do Brasil - e, mais ainda, o futuro da civilização.
(Amilcar Neves, escritor)
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