1 de mai. de 2009

JAZIGO 11,
QUADRA 15,
SECTOR SETE

Foto: Marco Nascimento.

Por Olsen Jr.

É onde ele está agora, no Cemitério do Morumbi, em São Paulo.

Pode parecer mórbido, mas é real. Para mostrar que a vida é curta e só tem sentido se lhe emprestarmos um.

Hoje, dia primeiro de maio, faz exatamente 15 anos da morte do piloto Ayrton Senna. Com ele nós aprendemos que o brasileiro pode ser um vencedor, independente das dificuldades que tenha de enfrentar, mesmo que “elas”, nesse caso, sequer estejam dentro das pistas, como a burocracia e o jogo do poder alimentando o circo da fórmula I nos bastidores de um teatro onde o dinheiro e o compadrio muitas vezes determinam o enredo das histórias, como ocorreu na vida de Senna quando desafiou o stablishment da categoria e impôs o seu talento.

Só para lembrar, em 1984, o seu ano de estréia na F-1, no GP de Mônaco , circuito de difícil ultrapassagem, Senna pilotando um limitado Toleman, larga em 13º e na 19ª volta ultrapassa Niki Lauda que estava em segundo e começa a perseguir o líder, Alain Prost. Chovia muito no circuito. Na 31ª volta, Senna consegue fazer a ultrapassagem a poucos metros da linha de chegada, mas a corrida é interrompida pelo ex-piloto e diretor de provas, o belga, Jack Ickx. Como a corrida tinha passado da metade, foi computada apenas a metade dos pontos aos pilotos (assim o vencedor recebeu 4,5 ao invés de 9 pontos e o segundo lugar 3 ao invés de 6...). A imprensa acusou Ickx de favorecer o amigo francês Prost... A ironia é que o campeão daquele ano foi Niki Lauda com meio ponto na frente do vice, justamente o Alain Prost... Se a corrida tivesse terminado e ele tivesse ficado em segundo (perdendo para o Senna) teria com os 6 pontos (ao invés de 4,5) sido campeão.

Em 1989, Prost e Senna estão na McLaren disputando o título. No GP de Susuka, no Japão, penúltima corrida da temporada, Senna tenta ultrapassar Prost (que não alivia porque se ambos saírem da pista, ele já é o campeão) os dois se enroscam, o motor do carro de Senna apaga, ele é ajudado pelos mecânicos, Prost abandona, e Senna vai aos boxes troca o bico e volta, consegue ganhar a corrida, mas é desclassificado, porque segundo o “regulamento”, havia cortado a chicane após a colisão... Depois começa uma batalha de palavras, jogo para a imprensa, o presidente da FIA na época (não vou citar o nome do filho da puta) ameaçou de cassar a superlicença (a carteira que habilita o piloto da F-1) de Senna... O piloto brasileiro “engoliu”...

Em 1990, no mesmo circuito, Prost está na Ferrari, Senna da McLaren, ambos disputam o título. A pole-position do circuito fica no lado direito da pista (o lado mais sujo) com a promessa de que a posição será mudada, Senna consegue roubar a “pole” de Prost para largar na frente... O mesmo presidente da FIA (recuso a mencionar o f.d.p.) ignora a promessa feita e mantém a pole no mesmo lugar... Aí foi a vez de Senna dar o troco, não aliviou o pé, e a 270 km/h, desconsiderando a linha de tangência da curva (que era da Ferrari) toca na roda traseira do carro de Prost, ambos são tirados da pista, Senna é o campeão...

Ele sempre lamentou o gesto, mas certamente entendeu que entre feras, também deveria ser fera...

Senna sempre foi uma referência quando o assunto é obsessão, vontade, talento, e também, adaptação quando as circunstâncias são hostis.

A par das crianças que ajudava (só ficamos sabendo depois de sua morte), sabia que com boa vontade sempre se pode ir além... O cantor italiano Cesare Cremanini gravou uma canção chamada “Marmelade #25” em que o refrão diz “Ahh! Desde que Senna não corre mais... Não é mais domingo”...

Nem os Beatles, Hemingway, Fitzgerald, Jazz, Vera Fischer, a Musa, o Internacional, tudo o que aprendi a admirar, ninguém mais conseguiu me devolver àquelas manhãs quando o Brasil (do talento e não dos espertinhos) que sonhamos era possível!


Foto: Marco Nascimento

Lembranças de um convívio

O repórter cinematográfico Marco Nascimento, atualmente residindo em Santo Amaro da Imperatriz-SC, morou quase 30 anos em Londres, onde trabalhou na rede Globo, CNN, BBC e Tele Montecalo, entre outras emissoras. Entre uma guerra e outra que ele cobriu naquele tempo, acompanhava de perto a Fórmula 1, Senna em particular, nascendo uma grande amizade. Abaixo, um pouco dessa memória.

Estamos em Cascaes (Portugal), onde dois BMW alugados pela equipe da TV Globo, percorrem as ruas da cidade. Um deles é dirigido por Ayton Senna, transformando o passeio em um pega que deve ter assustado os portugueses. A cena mostra a grande habilidade do piloto da Fórmula 1, testemunhada por Nascimento na descida de uma serra, e as boas relações que Senna tinha com os jornalistas, ou pelo menos a maioria deles. Foi nesse ano que ganhou a primeira corrida pela Lótus, sob intenso temporal, quando fez o nome, “era o rei da chuva”. Desceu o pódium e levou os jornalistas para jantar.

A amizade entre o piloto e o cinegrafista foi cultivada aos poucos, entre uma guerra e outra, quando Marco era destacado para cobrir diversos eventos, os principalmente esportivos. A ligação teve início logo na chegada do jovem piloto à Europa, em 1981. Senna chegou estava credenciado pela conquista do sul-americano de kart em 1977, iniciando a atuação da Fórmula 3 inglesa, cujo primeiro título obteria em 1983.

Era um profissional sério, íntegro, honesto e que “não gostava de perguntas idiotas, saía do sério quando isso acontecia”, recorda Nascimento. Num primeiro momento ele testava o profissional, revelando alguma informação e pedindo off (segredo). Se a informação vazasse, ele saberia quem foi. “Se o off não fosse respeitado ele não confiava mais no profissional”, assinala, “dando apenas respostas secas, sim, não, dá, não dá”.

Nos primeiros anos de sua presença na Europa, atuando como piloto de Fórmula 3, chegou a se alojar várias vezes nas suítes dos hotéis em que Marco Nascimento e outros profissionais da Globo se hospedavam. “Ele ficava no quarto da gente, mas nunca chegou a dormir no chão como andaram falando. Eram suítes grandes, a gente conversava até tarde e ele acabava dormindo por ali”.

As relações entre os dois se estreitaram ainda mais durante os treinos, quando estica passava o dia acompanhando os trabalhos. “Ele perguntava qual era nossa hora-limite para o envio de matéria e um pouco antes ele aparecia. O Jornal Nacional sempre queria uma fala dele”, lembra. Muitas vezes, na ausência de repórter, as sonoras eram colhidas pelo cinegrafista. “Ele experimentava os carros, indicava aos mecânicos e engenheiros o que precisava ser feito e ficava aguardando. Esse era o melhor momento para conversar com ele”.

Marco estava em Londres, acompanhando a corrida na casa de Rubinho Barrichello naquele fatídico 1º de maio de 1994. No momento do acidente em Bolonha (Itália), “eu havia pedido ao Rubinho que simulasse o piloto numa largada e estava filmando isso quando aconteceu a batida”, conta. “Senti a morte dele como se fosse a de um irmão. Pensei em nunca mais cobrir corrida, como havia jurado que não cobriria mais guerra do do Líbano em 1982”. Nascido em São Paulo no dia 21 de março de 1960, Senna acumulou 41 vitórias e três campeonatos mundiais (1988, 1990 e 1991) como piloto de Fórmula 1.

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