7 de mai. de 2009

A crônica de Olsen Jr.


Olá, camaradas, salve!

De uns tempos para cá ando meio cansado dos "donos da verdade", indivíduos que se autorgam o "direito" de falar em nome da humanidade...

Apesar de continuar um "insubmisso", faz tempo que aprendi que o direito do anzol é ser torto, deixei de tentar "consertar" o mundo (nem preciso lembrar da fábula recriada pelo Monteiro Lobato, "O Reformador do Mundo")... Isso não me impede de perceber a cretinice que move determinados indivíduos...

Se for um político, bem, o problema é que já lhes conhecemos as segundas intenções antes que eles nos revelem as primeiras...

Ah, ah, ah! Boa essa, hein?

Olha a música aí, "No Milk Today", com Herman`s Hermits...

Nada de Leite Hoje... Uma maneira de não abrir a guarda...

Vai a de hoje com o carinho do poeta...

Abração e até a semana que vem, se o patrão lá da última envernada permitir...

PS.: Tenho de cair na estrada daqui a pouco, ficarei em Joinville até o dia 23, integrando uma comissão julgadora (com outros dois escritores que ainda não sei quem são) dos editais de apoio a cultura do município, na área de letras (conto, crônica, poesia e romance). Tenho uma certa "inveja" (um sentimento, nesse caso, bom) por cidades em que a cultura é bem encaminhada e tem o respeito do poder político constituído, o caso de Joinville, se me permitem...

Se atrasar um pouco nas respostas aos e-mails, tenho aí o álibi...

Até!


PALPITEIROS DE PLANTÃO


Olsen Jr.

Quando era aluno do Ginásio São Francisco (educandário Marista) em Chapecó, lembro de uma história contada pelo irmão Marcílio, daquelas que tinham um cunho moralista, quer dizer, ensejavam ao final, uma lição de vida.

Afirmava que certo pintor estava curioso para saber o que os visitantes pensavam a respeito de um determinado quadro de sua exposição. A tela mostrava alguns trabalhadores urbanos em seu fazer diário, mas na condição de artista, estava um pouco inseguro da composição, daí resolveu ficar oculto, nas proximidades, só para ouvir os comentários que se faziam. O que mais o impressionou foi o de um cidadão, que tinha chegado com a mulher, parado em frente da obra e dito, “veja aí mulher, se o pintor conhecesse de calçados, tinha pintado aquelas botas com manchas de graxa, e certamente teria desgastado um pouco as solas... O artista que ouvia tudo deu razão para o homem, saiu do lugar onde estava escondido e após se apresentar, agradeceu pelo conselho, e só então indagou sobre a profissão do visitante, e ouviu “sou um sapateiro”... Mas quando este ofereceu outro palpite, agora sobre a indumentária: “ ... E a camisa daquele que aparece com... “ Foi interrompido pelo pintor, que falou “não vá o sapateiro além dos sapatos”...

Se você pretende conhecer o “imaginário” de uma sociedade, leia a seção de cartas dos jornais... Tem o monomaníaco, aquele que escreve sempre sobre o mesmo tema (conheço um que há mais de trinta anos fala sobre a FEB – Força Expedicionária Brasileira, os pracinhas na Segunda Guerra Mundial); outro, do interior do Estado, especialista em BRs e Rodovias que interligam municípios (os problemas são locais mas a solução é Estadual ou Federal); o diletante, aquele que identifica os buracos de rua e sugere ocupações diferentes nas áreas de lazer, faz isso com tal espontaneidade que é uma pena que não esteja trabalhando na prefeitura; tem o moralista (efetivou-se de maneira fraudulenta no governo do Estado e escreve textos sobre ética e retidão de conduta, genericamente falando é claro, quando não é mais possível dissimular determinado escândalo); há o frustrado ideológico (no tempo obscuro da estratocracia no País, manteve-se calado, inativo, mas depois que a história se encarregou de revelar os equívocos de determinadas ações, então se posta como o destemido, mais ou menos como aquele que se esconde do leão quando este está solto, e depois vai até sua jaula tripudiar e cuspir em cima, quando alguém já o capturou e não representa mais perigo).

Tem o enciclopedista (aquele que não enjeita assunto para dar seu palpite opina sobre o Marighela, o Che Guevara, mas também sobre aposentadorias, INSS e outros)...

Quando abro o jornal, aposto comigo mesmo sobre qual desses palpiteiros vou encontrar na seção de cartas, às vezes, até três deles na mesma edição, é dose!

Essa ocupação de escrever cartas pode ser um substituto alternativo para um aposentado, em vez de acordar cedo e sair com o “cachorrinho” para passear (sem levar o material para recolher as fezes que o mesmo irá fazer, porque o “moralismo” só funciona com os outros) ou então ficar em casa o dia todo, abrindo e fechando a geladeira, o sujeito opta por emitir, dia sim e dia não, o ranço de opiniões mal digeridas na solidão de quem precisa compensar, muitas vezes, uma vida inteira sem possuir uma importância coletiva, quer dizer, mais um indivíduo no mundo, só, de nada para nada, gratuito, como diria o Sartre.

Pode ser, mas não é tudo, há uma compulsão (em algumas pessoas) em “opinar”, principalmente quando se está fora do “poder decisório” em que tal ato não pode se transformar em ação, o que levou o comediante George Burns em afirmar: “É uma pena que todas as pessoas que sabem como governar o país esteja ocupada dirigindo táxis ou cortando cabelos”.

Ilustrações: Gallo Sépia

2 comentários:

  1. Nessa base, com tais ilustrações, o meu próximo livro (de crônicas ou de contos) terá o Gallo Sépia como ilustrador...

    Celso, cumprimente o artista aí, por mim...

    Meus cumprimentos, mais uma vez, pelo Blog e pelo grande "acerto" em ter o nosso colega latino americano como companheiro de viagem nessa empreitada cultural...

    Abração e até mais!

    Olsen jr.

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  2. Olsen, concordo contigo. Estas ilustrações são lindas e fortes como a tua escrita que tanto gosto. A propósito, a tua crônica já está online, mas aquela tua foto sob a luz da bandeira Wiking ficou interessante,vale ver.
    Agora, preparo aqui um texto sobre ti para introduzir ainda hoje.
    Mas, antes quero deixar registrado um breve comentário. Recebi o Jornal da FCC e fiquei pasma. Morro e não vejo tudo!!! Sabias que o Acordo Ortográfico passou pelo seu título? Pois é, depois de mais de 60 edições, de ter como editores nomes como o Flávio Cardozo, Fábio Brüggemann e o teu,surpreendo-me com a inovação.
    Aliás,não devia me surpreender com mais nada. Se depois de 24 anos de Feira do Livro de Rua de Florianópolis,trocaram e rebatizaram como Feira Catarinense do Livro e já vai para a II edição!!! O que se espera mais?
    Podem tirar acento do título do Jornal que ele continuará a ser Ô Catarina!, a Feira será de Rua para sempre, pois temos uma memória coletiva e é ela que legitima a tradição e nos identifica.Concordas?
    Ô Catarina,um abração da amiga
    Lélia

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