17 de fev. de 2009

Litografia de Joaquim Margarida. Matraca, nº 18. Desterro, 1886.

Seres humanos na crise do capitalismo

Por Emanuel Medeiros Vieira


(Modesta meditação dedicada em favor do pessimismo da inteligência e do otimismo da vontade.)

André Gide escreveu: “Todas as coisas já estão ditas, mas como ninguém escuta, é preciso recomeçar sempre.”

E o ofício de escrever é um eterno recomeçar: lutar com palavras mal rompe a manhã, para usar a expressão de Drummond.

Creio que travamos, através da linguagem, o que T.S.Eliot chamou de “combate intolerável com as palavras” que “se estiram, racham, escorregam, perecem.”

Mas a batalha da vida não é formal. O que percebemos é a banalização do mal e não do bem. A mercantilização das relações, a hegemonia do ter e do parecer, o estímulo à futilidade e ao egoísmo, geraram um ilhamento entre as pessoas, onde muitos seres parecem apenas fingir e camuflar os seus sentimentos.

O modelo vigente acreditava que éramos meros números.

Minha geração não viu crise maior do capitalismo.

Crise ou colapso? O “Muro de Berlim” dos neoliberais?

Onde estão aqueles que exigiam Estado mínimo e nos chamavam de dinossauros?

Eles tinham verdades consagradas. Diziam que o capitalismo havia vencido.

Como disse Cesar Benjamin num artigo intitulado “Karl Marx manda lembranças”, os “Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas”.

O que se vê não é erro nem acidente. O projeto todo estava centrado na acumulação do capital.
Tantos anos de falso consenso resultaram neste quadro dantesco.

Benjamin está convicto de que o Brasil pagará alto preço por ter subordinado sua economia ao grande cassino.

Resultado?

Colapso financeiro, desemprego crescente, desigualdade social obscena. E assim por diante.

O concílios acabaram com o limbo e com o purgatório. Com o inferno não...

Formou-se uma geração de políticos espertos, inebriados pelo marketing, não pela verdade.

E a degradação ética, internalizada em muitas almas, parece não ter fim.

Só unidos poderemos recuperar o núcleo do humano.

(Não digo nada de novo. Eu sei. Mas nossa força é essa: nossa união, forjada em tantas lutas.)

Como observou Boris Pasternak, “viver a vida até o fim não é tarefa para crianças.”

Vamos vivê-la?

(Brasília, fevereiro de 2009)

Um comentário:

  1. Belo e triste texto, amigo, mas a triteza é inerente, se falamos do mundo real da política e do stablishment. A política atual perdeu toda a capacidade de transformação, engolida pela sordidez do individualismo e da inconsciência ética. Só poderemos mudar isso - tenho certeza - através da arte, do amor e da resistência. é preciso resistir sempre. Parabéns, poeta.
    Beijo fraterno de Amneres -www.poesiaemtemporeal.com

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