27 de jan. de 2009

Univali confirma toxinas no Ribeirão da Ilha


Texto encaminhado pelo jornalista Wagner Mezoni da Assessoria de Comunicação e Marketing Institucional da Univali, com o título "Confirmada Maré Vermelha no Sul da Ilha de SC", e uma linha de apoio: "Pesquisadores afirmam que o evento é diferente do ocorrido anteriormente na região". Ou seja, não é a "maré vermelha" a que estamos acostumados.

Florianópolis/SC - Pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), confirmaram a contaminação de moluscos na Baia Sul da Ilha de Santa Catarina e Ponta dos Papagaios. O evento é diferente do ocorrido anteriormente em Santa Catarina.

“Foi observado grande abundancia de algas do tipo diatomáceas do gênero pseudo-nitzschia, nas amostras de água coletadas”, diz Luis Antonio de Oliveira Proença, coordenador do Laboratório de Algas Nocivas do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra de do Mar (CTTMar), da Univali.

As análises e a evolução do evento estão sendo acompanhadas pelos pesquisadores, por meio do programa de monitoramento desenvolvido pelos produtores locais, pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca. Elas demonstraram a contaminação de moluscos pelo ácido domóico em concentrações nunca antes observadas.

A detecção de ácido domóico está, até o momento, restrita a baia Sul da Ilha de Santa Catarina. Os valores máximos da contagem estão acima de 20 milhões de células em um litro, dando a água uma coloração marrom esverdeada.

O valor da toxina chegou acima de nível máximo de concentração de ácido domóico em frutos do mar destinados ao consumo humano, que é de 20 mg/kg de carne. Ostras, berbigão e outros organismos também apontam contaminação.

Os sintomas para a contaminação por esse tipo de toxina aparecem após algumas horas da ingestão estão entre distúrbios gastrointestinais, como diarréia, vômitos e dores abdominais, até a dor de cabeça, com alterações no sistema nervoso. Também já foram registrados raros casos de lesão cerebral e morte em pessoas com algum tipo prévio de debilidade, como presença de problemas renais.

Em casos agudos para contaminação por esse tipo de toxina foi observado à perda de sensibilidade a dor e da memória recente. Esse último sintoma deu o nome à nova síndrome, envenenamento amnésico por consumo de moluscos ou Amnesic Shellfish Poisoning (ASP).

A principal diferença dessa contaminação é que a por ácido ocadáico, dos casos anteriores, se dá quase exclusivamente por consumo de moluscos bivalves. Já, o ácido domóico por sua vez, pode se acumular em crustáceos, como siris e lagostas e até em vísceras de peixes, tornando esses organismos vetores ao homem e animais marinhos.

Essa toxina é regularmente monitorada em diversos países, inclusive em Santa Catarina. As florações de pseudo-nitzschia nem sempre produzem toxinas, mas quando acontece além da contaminação de moluscos e potencial intoxicação a seres humanos, está relacionada à morte de aves, peixes e mamíferos marinhos, como focas e baleias.

Sobre o fenômeno

As diatomáceas são um dos principais grupos de algas que compões o fioplâncton marinho. Como tal, fazem parte da base da cadeia trófica alimentar nos oceanos e tem papel importante no ciclo dos elementos no globo, com a produção do gás oxigênio, com liberação para atmosfera, e também no seqüestro de dióxido de carbono.

Uma característica das diatomáceas é a presença de uma parte celular formada por sílica, dando a elas um aspecto peculiar. Eventualmente as frústulas, como são chamadas as paredes celulares de diatomáceas, se depositam no fundo dos oceanos formando depósitos geológicos que podem chegar a vários metros de espessura conhecida como vazas silicosas.

O gênero pseudo-nitzschia é um dos muitos que compões o grupo das diatomáceas e é amplamente distribuído nos mares do globo, inclusive na região costeira do Brasil. Caracteristicamente formam cadeias de células muito finas (cerca de 30 vezes mais finas que um fio de cabelo) e longas, que ao microscópio ótico se assemelham a agulhas ou fibra de vidro.

Algumas espécies do gênero pseudo-nitzschia (Nitzschia) produzem uma toxina chamada ácido domóico. Esse é um aminoácido semelhante ao ácido caínico. Em 1987, várias pessoas foram intoxicadas após consumo de moluscos na costa leste do Canadá.

Depois de uma grande investigação, descobriu-se que as intoxicações foram causadas por esse ácido e que ele era produzido por diatomáceas do gênero pseudo-nitzschia. Essa é o primeiro registro desse tipo de infecção pelas diatomáceas, antes exclusividade dos dinoflagelados nos eventos de maré vermelha.

No Brasil o ácido domócio foi detectado em amostras de algas já em 2001 pelo Laboratório de Estudos sobre algas Nocivas da Univali. Desde então, vários estudos foram realizados por esse e outros laboratórios ao longo da costa brasileira.


Repercussão

Cópia do laudo da Univali do dia 24.1.2007 entregue
aos maricultores de Santo Antônio de Lisboa
hoje de manhã por um funcionário da Epagri.

(Clic na imagem para ampliar)


Mais uma na cabeça dos maricultores

Chuvas prolongadas, vendaval e uma nova “maré vermelha”. Somados os três itens, temos como resultado o desânimo tomando conta dos cerca de 30 maricultores das regiões de Santo Antônio, Sambaqui e Praia do Forte. José Queiroz, por exemplo, pioneiro no ramo em Florianópolis, contabiliza os prejuízos: R$ 22 mil em 2007 e cerca de R$ 30 mil no ano passado. Os danos começaram a ser sentidos com a “maré vermelha” do ano passado, quando os principais clientes sumiram e “até hoje não retornaram”.

Hoje (27.1) pela manhã os maricultores estavam tensos com a falta de informações. “A Vigilância Sanitária de Florianópolis diz uma coisa e a Epagri diz outra, mas não aparece ninguém aqui para explicar o que está acontecendo”, desabafa Queiroz. Enquanto ele falava e reclamava da recente mortandade de ostras adultas, apareceu um funcionário da Epagri com a cópia do laudo da Univali.

“Com esse documento nós podemos garantir aos clientes que nossas ostras não estão contaminadas”, reitera Queiroz, atormentado com os boatos sobre a proibição do comércio de moluscos em toda a cidade. No documento entregue a ele foi retirado o resultado das análises de amostras coletadas entre os dias 21 e 23 desse mês no Ribeirão da Ilha. Segundo o laudo assinado pelo professor Luís Antônio de Oliveira Proença, da Univali, a toxina é o ácido domóico produzido pela microalga Pseudonitzschia spp.






Apesar das incertezas no setor, os maricultores de
Santo Antônio de Lisboa mantém as atividades.


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