18 de nov. de 2008

O sambaqui de Sambaqui

Aspecto da Ponta do Sambaqui. Banco de Imagens - Casa da Memória/FCF-FC.


(Republicação dos textos da arqueóloga Fabiana Comerlato, doutora em Arqueologia, e da geógrafa Fernanda Comerlato, escritos especialmente para o Sambaqui na Rede)



Conhecendo a geologia da Ponta do Sambaqui


Fernanda Comerlato - Geógrafa


Se dermos uma volta pela Ponta do Sambaqui podemos observar a areia na qual estamos pisando. Ela é formada basicamente pela decomposição do granito1 e de sedimentos marinhos. Na formação rochosa da Ponta do Sambaqui encontramos o Granito Ilha2, tipo de granito de cor rósea a cinza-claro existente em grande parte da Ilha de Santa Catarina e em ilhas próximas. Você pode ver vários blocos de granito espalhados na praia, inclusive dentro da água.

Além do Granito Ilha, encontramos outra rocha chamada riolito3. Na Ponta do Sambaqui ela é encontrada encaixada nas fraturas do granito (direção norte-nordeste), sob a forma de diques4. Vale ressaltar a pequena e rara presença de diques de riolito em toda a Ilha de Santa Catarina, como no Pântano do Sul, Armação, Matadeiro e Morro da Cruz.



[1] Granito: rocha magmática ou ígnea (formada a partir da solidificação da lava presente no interior de nosso planeta), de granulação grosseira, composição ácida, composta essencialmente por minerais claros como quartzo, feldspato alcalino e plagioclásio.

2 Granito Ilha: rocha granítica da Suíte Pedras Grandes, originada no final do Neoproterozóico, apresentam grãos médios a grossos, de cor rosada ou cinza-claro, constituído de plagioclásio, quartzo, feldspato alcalino e biotita.

3 Riolito: rocha vulcânica de composição ácida (onde predominam minerais ricos em sílica e elementos alcalinos como sódio e potássio), caracterizando-se pelas cores cinza-claro a avermelhado.

4 Dique: intrusão ígnea tabular vertical, que corta as estruturas das rochas circundantes.




A presença de populações

pré-coloniais na Ponta do Sambaqui


Fabiana Comerlato - Arqueóloga


A Ponta do Sambaqui foi habitada por povos muito antes da chegada dos viajantes europeus, já que a camada de conchas sobre os blocos de granito foi formada em razão da ocupação de populações litorâneas pré-coloniais. O sítio arqueológico foi registrado como um sambaqui1 de pequenas dimensões pela equipe do Museu Universitário da UFSC há 20 anos atrás, através de informações do Sr. Aderbal Ribeiro. Na ocasião, foram coletados pedaços de cerâmica da Tradição Itararé2 e amostras de conchas. Infelizmente, este sítio ainda não foi alvo de pesquisas arqueológicas que poderiam reconstituir um pouco mais sobre o modo de vida destes antigos povos litorâneos. Enquanto isso, a erosão marinha vem prejudicando a preservação do sítio, destruindo pouco a pouco uma história ainda desconhecida.

1 Sambaqui: sítio arqueológico que apresenta vestígios culturais (objetos, sepultamentos, fogueiras, restos de animais) em meio a camadas com alta densidade de conchas e moluscos, trazidas por populações de pescadores-coletores-caçadores. O sambaqui mais antigo da Ilha de Santa Catarina, com aproximadamente 5000 anos de idade, fica no Rio Vermelho.

2 Tradição Itararé: nome atribuído ao conjunto de vestígios materiais dos primeiros ceramistas pré-coloniais que viveram em aldeias no litoral catarinense por volta dos 1200 a 600 anos atrás. A cerâmica da Tradição Itacaré caracteriza-se por ser de pequeno porte, com paredes finas e de coloração escura, geralmente sem decoração.




Bibliografia Consultada

BUSS, Gerson. Descrição e estudo da evolução do relevo e da evolução urbana do bairro Sambaqui, no Distrito de Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis, SC. Trabalho de Conclusão do Curso de Geografia, UFSC, 2005.

CARUSO JÚNIOR, Francisco & AWDZIEJ, João. Mapa Geológico da Ilha de Santa Catarina – escala 1: 100.000. Notas técnicas, n°6, UFRGS. CECO (com texto explicativo), 1993.

FOSSARI, Teresa Domitila (coord). Projeto: “O Povoamento Pré-Histórico da Ilha de Santa Catarina”. 3º Relatório Final. Florianópolis: MU/UFSC, 1988.

Um comentário: