Amílcar Neves
Não havia dúvida sobre o que iria, sobre o que deveria acontecer. Havia ansiedade, isto sim. Ansiedade da torcida, dos atletas, da comissão técnica, da diretoria. Ansiedade até dos adversários. Ansiedade generalizada, porém confiança. Mas não arrogância: apenas a consciência nítida do que precisava, do que haveria de acontecer.
O Brasiliense foi um coadjuvante. Eles sabiam desta sua condição: a cidade estava em festa, com meio feriado durante toda a terça-feira, 11 de novembro (a outra parcela, alvinegra, não fez feriado: não tinha mérito para fazê-lo), a Ressacada estava lotada, tão lotada que combinaram que não haveria, nesse jogo, arquibancada reservada para a torcida visitante: quem fosse ao estádio sabia que ia para ver o Avaí.
A cidade estava azul - até o céu chegou a ficar azul durante o dia. Depois, é claro, choveu um pouco, antes da partida. Afinal, pelas estatísticas, 132,7% do tempo de jogo da equipe azurra em casa foi debaixo de água. Às vezes, de muita água.
Crianças avaianas demarcavam o círculo central do gramado com balões azuis e brancos que soltaram ao ar à entrada do Avaí, momento em que o estádio veio abaixo. Foguetes desenharam uma coroa de luzes por detrás das arquibancadas.
Antes do início da partida - única vez este ano na Ressacada -, todo o público cantou junto o Hino Nacional, desde a primeira até a última nota, como se houvessem todos combinado de cantá-lo além de entoar os costumeiros gritos de guerra.
Aos 36 minutos do segundo tempo - em 0 x 0 ia o jogo até então -, ocorre um momento de estupor que cala toda a torcida durante uma fração de tempo. Evando chuta, a rede balança e o estádio inteiro emudece, inseguro sobre a causa daquele tremular: teria a bola ondeado o véu por dentro ou por fora do gol? Evando chuta rasteiro, a bola resvala num adversário, passa entre as pernas do goleiro brasiliense, toca em seu calcanhar e sobe balançando a rede. Subiu quanto? Mais do que devia?
Evando, sempre ele, tem a irritante mania de resolver as coisas no final.
Vitorioso, matematicamente classificado para a elite do futebol brasileiro em 2009 três rodadas antes do final do campeonato, o Avaí estourou champanha no meio do gramado e desfilou naquela noite histórica o desfile dos campeões em carro dos Bombeiros como se fosse o campeão.
No dia seguinte, o meio feriado se aprofundou - para os dois lados.
(*) Crônica escrita para o Diário Catarinense. Reprodução autorizada pelo autor.
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