O Chapecó: fechado, doente
Por Amílcar Neves*
O Chapecó está fechado e o Chapecó, doente. Não é porque o Chapecó ficou doente que o Chapecó fechou. Não: o Chapecó está doente porque fecharam o Chapecó, quer dizer, não deixaram o Chapecó abrir. Com isso, o Chapecó, que presta um verdadeiro serviço comunitário, adoeceu e caiu de cama em sua casa, no andar de cima do Chapecó.
O que houve com o Chapecó? O de sempre: balbúrdia, bagunça, barulho, tumulto, ruído insuportável, ofensa ao sossego público. É o que dizem mãe e filha, vizinhas da modesta residência aos fundos, a primeira casa pela rua lateral (o bar e restaurante fica numa esquina).
Elas decidiram criar caso. Muita algazarra, reclamaram. O Chapecó fechou a varanda do lado. Muita algazarra ainda, chiaram. O Chapecó levantou o muro de trás. Isso era pouco para o que pretendiam. Percorreram o rol dos órgãos que poderiam complicar a vida do Chapecó: polícias, bombeiros, vigilância sanitária, fundações do meio ambiente, advogados, todos os poderes concedentes de alvarás e permissões. De um deles saiu, não a ordem de interdição, mas a omissão de autorizar o funcionamento do Chapecó. E o Chapecó caiu doente enquanto a mulher, em lágrimas, dispensava as centenas, os milhares de clientes que há 11 anos tomam uma cerveja, comem um pastel e discutem a campanha do time antes dos jogos do Avaí.
Finda a partida, como o trânsito não anda porque não se dá solução à vergonhosa impossibilidade de voltar logo para casa, o destino natural é o Chapecó: para uma cerveja, uma abundante porção de calabresa e a análise apaixonada, parcial do jogo.
Um dia (enfim as coisas se esclarecem!) as vizinhas acenaram com a possibilidade de um acordo: a venda por 250 mil da casa que vale 150.
O Chapecó, próximo à Ressacada, só funciona quando o Avaí joga: no Brasileirão, duas vezes por mês, no máximo três. Para mãe e filha isso é o suficiente para enlouquecer qualquer um, apesar dos cuidados do Chapecó em preservar o ambiente familiar da casa.
Então, neste domingo, enquanto torcedores de Avaí e Coritiba confraternizavam em torno do estádio, o Chapecó permaneceu de portas cerradas: o Chapecó doente, sua mulher em lágrimas e a tarde bem mais triste.
O Chapecó é uma instituição respeitável. As atitudes de algumas pessoas e as medidas de certas autoridades é que ferem totalmente o bom senso. Vivemos tempos de intolerância, esta é a verdade.
*Amilcar Neves, escritor. Crônica publicada na edição de hoje (27.5) do jornal Diário Catarinense. Reprodução autorizada pelo autor.
Ilustração: Gallo Sépia.
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Criação e ilustrações: Gallo Sépia.